Autor: bracarense
jueves, 17 de noviembre de 2005
Sección: Artículos generales
Información publicada por: bracarense


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Ruínas Arqueológicas de São Martinho de Dume

O complexo arqueológico de Dume assume-se, na actualidade, como um dos mais importantes locais de investigação do Norte de Portugal sobre a história do reino suevo. A ocupação do lugar recua aos primeiros anos do período romano, altura em que aqui se estabeleceu uma "villa", de que se conhece um compartimento. Posteriormente, e ao que as escavações vieram sugerir, esta propriedade foi reformulada nos séculos III-IV, momento a que pertencerá um edifício termal (de planta octogonal e bastante compartimentado), recentemente escavado.
Mas foi nos meados do século VI, mais concretamente na sequência das chamadas invasões bárbaras, que Dume passou a ter real importância no contexto peninsular. Pela mão de São Martinho, "Apóstolo dos Suevos" (OLIVEIRA, 1964), as anteriores estruturas deram lugar a um mosteiro, cuja importância lhe conferiu imediatamente o estatuto de centralidade religiosa do reino e diocese autónoma em relação à tão próxima cidade de Braga. Por seu lado, também o monarca construiu um palácio anexo, fazendo da antiga "villa" de Dume um dos centros decisórios da corte.
É neste contexto de expansão e de afirmação da autoridade sueva (e também da metropolita de Braga) que se deve entender a construção da basílica dumiense. Ela conhece-se apenas parcialmente, mas os vestígios conservados provam a grande qualidade da construção e, em especial, a sua originalidade. A cabeceira é o elemento de maior interesse, na medida em que adopta uma planta cruciforme, de planimetria trifoliada com tripla ábside semicircular e em associação a um cruzeiro quadrangular (FONTES, 1995, pp.417-418).
Alguns autores interpretaram esta estranha organização à luz do que, um século depois e em contexto político visigótico, São Frutuoso realizou em Montélios. A verdade é que estamos perante a transposição de um modelo de templo de carácter martirial, frequente no Sul da Gália pelo século VI, a partir de realizações orientais (FONTES, 1995, p.420), e que chegou ao Noroeste peninsular através da forte influência que o reino merovíngio exerceu sobre os monarcas suevos, com cuja família real São Martinho trocou correspondência (MACIEL, 1996) e de que resultou uma relação que se testemunha em outras obras artísticas suevas, como o sarcófago paleocristão bracarense (REAL, 2000, p.31).
Tão importante como o reconhecimento arqueológico do monumento e as vias de influência que aqui confluem, é o facto de o templo paroquial-monacal-real de Dume constituir a mais clara demonstração de como a corte sueva patrocinou um tipo específico de arquitectura, dotado de personalidade própria. Mantém-se a "regresão técnica" que caracteriza a esmagadora maioria da actividade construtiva peninsular suevo-visigótica, como o prova o "sistemático reaproveitamento de materiais" (FONTES, 1995, p.426; REAL, 2000, p.25), mas não parecem restar dúvidas de que, no apogeu do mundo suevo, Braga foi um centro artístico de inegável importância, diferenciando-se da tutela estética de Mérida.
Mais de três séculos depois da construção de São Martinho, e já em pleno contexto (re)conquistador, a basílica foi objecto de uma reforma, cujo objectivo fundamental foi a revitalização do culto do seu fundador. Falamos da viragem para o século X e do chamado "repovoamento de Afonso III". Por essa altura, o complexo religioso de Dume havia sido abandonado (ou então encontrava-se em franca decadência), e quer a figura de São Martinho quer o mosteiro-diocese por si criado não eram mais que uma memória; uma memória que importava revitalizar, à semelhança do que se faria em Montélios. Desconhecemos ainda quais as principais alterações efectuadas, mas é certo que o novo poder asturiano preservou a cabeceira sueva. Mesmo tendo em atenção que o templo poderá ter passado a ter uma função paroquial (FONTES, 1995, p.424), a manutenção daquela estrutura prova o impacto que a velha construção teve nos novos detentores.

Más informacióen en: http://www.ippar.pt


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