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Muito obrigado pelo teu comentário! Agradeço a tua informação sobre o Santuário de Pastoriza, sobretudo no que diz respeito ao facto de os romeiros darem três voltas em t orno da imagem da Virgem.
Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
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Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
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Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
Acontece o mesmo em Portugal. O culto a Saturno está bem documentado no cabo de Sagres/S. Vicente e nas ilhas Berlengas, frente ao cabo Carvoeiro; e pode ser deduzido, com forte probabilidade, para o cabo da Roca.
Em todos estes casos, trata-se de zonas fronteiras ao mar oceânico, onde o sol mergulha no seu ocaso, e que por esse motivo sempre foram consideradas locais de repouso dos mortos - e, portanto, local de eleição para os "dii inferi ", ou deuses infernais.
Acontece o mesmo em Portugal. O culto a Saturno está bem documentado no cabo de Sagres/S. Vicente e nas ilhas Berlengas, frente ao cabo Carvoeiro; e pode ser deduzido, com forte probabilidade, para o cabo da Roca.
Em todos estes casos, trata-se de zonas fronteiras ao mar oceânico, onde o sol mergulha no seu ocaso, e que por esse motivo sempre foram consideradas locais de repouso dos mortos - e, portanto, local de eleição para os "dii inferi ", ou deuses infernais.
Agradecendo desde já a colaboração de todos os "celtiberos", gostaria de acrescentar ao meu artigo uns breves apontamentos sobre a origem das sereias. Não o fiz inicialmente, porque o artigo visava unicamente a permanência popular dos avistamentos na costa litoral da zona de Lisboa entre o séc. I e o séc. XVIII.
A questão é, de facto, bastante complicada... Na antiguidade grega, as "sereias" (grego "seirên", "seirênes") eram entendidas como entidades femininas com rosto de mulher e corpo e patas de ave, normalmente representadas com asas, como se pode observar num famoso vaso grego do British Museum (ver foto: http://www.theoi.com/Pontios/Seirenes.html ), datado de 480-470 a.C. Só posteriormente passaram a ser representadas como mulheres com a parte inferior do corpo em forma de peixe - tal como acontecia já com o "protótipo" assírio da deusa Atargatis, a que os gregos chamaram Derketo; este tipo de sereias tinha a sua contrapartida masculina no "Tritão" (grego "Tritôn"), filho de Poseidon e de Anfitrite (ver foto: www.theoi.com/Pontios/Triton.html)
Para complicar ainda mais a questão, os gregos falavam também de Nereides, deusas do mar ou ninfas, filhas de Nereus, que viviam no Egeu comandadas por Thetis; eram sempre representadas por jovens donzelas, cavalgando seres marinhos como golfinhos, hipocampos ou animais fantásticos (ver foto: http://www.theoi.com/Pontios/Nereides.html ). Não é, porém, neste sentido que Plínio as refere, mas sim como seres verdadeiramente marinhos.
Como se a complicação não fosse já suficiente, temos ainda na Idade Média europeia as "melusines" ou "melusinas", espíritos dos rios e das fontes naturais, representados sob a forma de uma mulher que, da cintura para baixo, é um peixe ou uma serpente; por vezes, apresenta também asas (ver foto: http://en.wikipedia.org/wiki/Melusine; apesar de estar na famigerada wikipedia, trata-se de um bom artigo). Delas afirma descender a família dos Lusignan, que também tem representação em Portugal.
Finalmente, e para aumentar ainda mais a confusão: em língua inglesa, as mulheres/aves designam-se por "sirens", enquanto as mulheres/peixe se designam por "mermaids". Em português, porém, tal como (ao que julgo) em espanhol, francês ou italiano, existe apenas uma mesma palavra para designar ambas as realidades: "sereia", "sirena", "sirène", "syrena"… o que em nada ajuda a clarificar a questão.
A imagem hoje "clássica" das sereias como metade mulher, metade homem foi popularizada na obra de um autor de Alexandria e que ficou conhecida sob a designação de "Physiologus" (ver: http://www.newadvent.org/cathen/12068a.htm). Traduzida para latim cerca do ano 400 - mas publicada em grego talvez já no séc. II d. C. - atingiu enorme notoriedade e divulgação, nomeadamente entre os autores cristãos. Aí eram as sereias descritas como monstros marinhos "maravilhosamente formados como uma mulher da cintura para cima e como um peixe do umbigo para baixo".
A tradiçao homérica das sereias, entendidas como seres que atormentam os marinheiros, permaneceu bem viva ao longo de toda a Idade Média europeia. Sirva como apenas um entre inúmeros exemplos o que relata o autor de uma crónica do séc. XII, um cruzado que participou na conquista da cidade de Lisboa aos Mouros pelo primeiro rei português, D. Afonso Henriques, em 1147 (há exactamente 860 anos): depois de os cruzados terem partido de Inglaterra e de terem avistado "os cumes dos montes Pirinéus", sobreveio um forte temporal que dispersou a armada. "A cerrada escuridão da noite e a extraordinária força das correntes marítimas levavam o desespero aos marinheiros, mesmo aos mais destemidos. Ouviram-se então sereias de voz horripilante, primeiro como de pranto, depois como de riso e gargalhadas, semelhantes a clamores de um arraial que nos insultasse".
Com os Descobrimentos Marítimos protagonizados por Portugal e Espanha, o conhecimento de espécies até então ignoradas, como os manatis (Senegal e costas americanas, da Florida à Amazónia) e dugondos (Oceano Índico) juntaram-se aos avistamentos "clássicos" de focas marinhas no Mediterrâneo e em parte da costa ocidental africana, alimentando as antigas lendas e contribuindo para um ressurgimento do mito das sereias e dos tritões.
Ver também, sobre as primitivas sereias gregas: http://216.239.59.104/search?q=cache:Gg2Sg1MgllwJ:homepage.mac.com/cparada/GML/SIRENS.html+siren+greek&hl=pt
Muito obrigado pelo seu comentário e pela sua correcção e aditamento à bibliografia (o Carlos Eduardo LUNA já está com o apelido correcto e acrescentei a referência ao artigo da "Madrider Mitteilungen", que não conhecia... infelizmente, não leio alemão).
Também não conheço uma única referência clássica à queda de estátuas de deuses na Hispânia coincidindo com o nascimento de Cristo. Trata-se, evidentemente, de uma interpolação fantasiosa feita por autores cristãos tardios, tentando comprovar que o Extremo Ocidente teria sido eleito por Cristo ("a luz que nasceu no Oriente") como local privilegiado da Cristandade desde os primeiros tempos. Situa-se na mesma ordem de razões "catequéticas" e simbólicas, pseudo historiográficas, que conduziram à lenda da vinda do apóstolo Santiago a Compostela.
Obviamente, a destruição das estátuas a que se assistiu no santuário de Endovélico não é contemporânea do nascimento de Cristo: o culto ao deus indígena manteve-se, com total pujança, pelo menos até ao séc. III, podendo mesmo ter continuado em época posterior. Mas parece não haver dúvida de que as imagens foram voluntariamente quebradas e "armazenadas" na base do templo cristão ali erigido sob a invocação de São Miguel Arcanjo, em época incerta: tratar-se-ia da (re)sacralização de um local que entretanto fora fortemente "satanizado" pelos cristãos, até por causa da própria monumentalidade do santuário romano - satanização essa que poderá aliás estar na origem do hidrotopónimo Lucefecit para a ribeira que lhe corre próxima (assunto a que regressarei num futuro artigo).
Creio que será a partir da época em que a ermida de São Miguel da Mota foi erigida que se terá começado a construir lentamente o mito historiográfico da destruição das imagens. Quando, a partir do Renascimento, os autores procuraram estabelecer a antiguidade da Lusitânia e afirmá-la como local privilegiado e predestinado, a tentação de transformar as ruínas do santuário de Endovélico em exemplo "divino" foi mais forte do que eles... e assim se terá firmado o mito da queda preternatural de Endovélico, força demoníaca e infernal derrotada pelo novo Deus que à Hispânia e à sua região mais ocidental viera trazer a luz salvífica.
Lucifer designa originalmente, na tradição greco-latina, o "portador da luz", identificando o planeta Vénus, também conhecido como estrela da manhã (ou do ocaso). É neste sentido que aparece, por exemplo, nas Geórgicas de Virgílio (III, 324-5): "Luciferi primo cum sidere frigida rura carpamus"" ("Atravessemos os frescos campos às primeiras luzes de Lucifer").
Este "primeiro" Lucifer nada tem que ver com o "segundo" Lucifer, posteriormente criado/inventado pela tradição cristã e que será identificado com Satan, que os cristãos transformam no Grande Demónio atormentador do homem e inimigo de Deus. A antiga e inocente estrela da manhã (Vénus) passou assim - pelas enviesadas artes interpretativas dos comentaristas cristãos - a estar ligada a Satan, o grande e terrível acusador.
O termo Satã deriva da raiz semítica "stn", que significa "acusar", "ser hostil", "agir como um adversário", e aparece no Antigo Testamento com o sentido de "acusar" (que poderíamos até traduzir, com algum humor maldoso, por "satanizar"…). A Septuaginta traduz o termo por "endiabállo", significando caluniar, ou por "diábolos", significando caluniador. Já a Bíblia de Jerusalém traduz geralmente por "acusar".
Ignoro se o arco-íris se chama o arco de Shaitan. Sei apenas que na mitologia grega foi criado pela deusa Íris, a mensageira dos deuses: viajando à velocidade do vento, deixava atrás de si um rasto luminoso simbolizando a união entre os deuses e os homens (ideia que também se encontra no Antigo Testamento, onde o arco-íris é o símbolo da aliança de Deus com os homens). O nome da deusa Íris continua perpetuado na palavra arco-íris, comum às línguas portuguesa e castelhana.
Onnega: essa etimologia é precisamente a que propõe José Pedro Machado no seu "Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa". Referindo-se ao antigo "Udialuicivez", vê nele o árabe "udi" e o nome "vez", que qualifica de pré-celta.
O problema é que a etimologia é uma disciplina (muito) traiçoeira... É verdade que no documento de 911, em que o rei Vermudo II oferece vários bens ao bispo de Santiago, surge "portella de Uice" ("vale de Vice"), podendo indicar uma suposta raiz paleoeuropeia que estaria na origem da actual Arcos de Valdevez, nas margens do rio Lima. A mesma "portella de Uice" é aliás mencionada num inventário de 1059, mas referente ao séc. X, do Mosteiro de Guimarães.
Só que um outro lugar chamado Valdevez, na freguesia de Ucanha, concelho de Tarouca, tem uma etimologia mais bem conhecida - e que parece nada ter que ver com origens paleoeuropeias.
Naquele caso, a forma "valle de Vez" surge já documentada em 1125, quando D. Teresa, mãe do primeiro rei de Portugal, doa o mosteiro de Ázere à catedral de Tuy. Mas, numa carta do couto de Ageriz, passada em 1152 e em que se descrevem os respectivos limites, diz-se que eles se iniciavam "per portum de Alvares a portu de Muates et per illum montem qui dicitur Averiz" (ou "Averici", noutra versão, que evolui para "Aveici" > "Aveis" > "Avez"). A questão é que o Averiz do séc. XII é provavelmente o genitivo do nome próprio de origem germânica Alvericus; e Vale de Avez - como ainda hoje é pronunciado pelo povo - teria assim derivado de uma "villa Alverici".
Seria esta explicação também possível para o outro Valdevez do rio Lima? Ignoro. Mas fica a dúvida.
Pessoalmente, e no que respeita a "udialuiviuez" > "Lucefece", creio que será sempre muito difícil optar por qualquer uma das várias etimologias propostas. O que de facto me parece não sofrer dúvida é que, a partir de determinada altura, o hidrónimo foi identificado pelas populações locais com Lucifer, e certamente por influência do vizinho santuário de Endovélico.
Profª Alícia Canto: muito obrigado pelo seu comentário. E respondo desde já à sua pergunta: sim, as sereias existiram mesmo!...
Já conhecia o texto de Damião de Góis, que aliás menciono no meu artigo. E é precisamente esse documento que permite concluir - sem qualquer dúvida - que os tritões e sereias eram animais marinhos realmente existentes e não simplesmente uma "espécie" herdeira dos mitos clásicos.
O documento original a que Damião de Góis se refere consta da chancelaria de D. Afonso III, estando datado de 1274. Foi publicado por Pedro d'Azevedo ("Sereias", in "Revista Lusitana", nº 3, 4º vol., Lisboa, Antiga Casa Bertrand, 1896, p. 287)
Lê-se no texto: "E se per ventura algua Balea ou Baleato ou serea ou coca ou Roaz ou Musaranha ou outro pescado grãde que semelhe alguu destes morrer em Sesimbra ou em Silves ou em outros lugares da Ordim [de Santiago] que El Rey aia ende seu dereyto." ("E se porventura alguma baleia ou baleato ou sereia ou coca ou roaz ou musaranha ou outro pescado grande que se assemelhe a algum destes morrer em Sesimbra ou em Silves ou noutros lugares da Ordem de Santiago, que o Rei receba deles o seu direito").
Vê-se, assim, que "serea" era apenas mais uma espécie marítima, tão real como as baleias, os roazes ou "outro pescado grande". Tratar-se-ia, muito provavelmente, de lobos marinhos ou focas-monge (Monachus monachus), espécies ainda relativamente frequentes nas águas atlânticas portuguesas até ao séc. XVIII, e que abrangiam uma vasta área geográfica cobrindo todo o Mediterrâneo e parte da costa ocidental africana. Foram talvez os avistamentos destas espécies que estiveram na origem - ou reforçaram - o mito das sereias e tritões, pelo menos no que se refere à tradição clássica.
Um breve apontamento, apenas para recordar que as armadilhas para lobos e ursos estão igualmente documentados no Norte de Portugal (Minho / Trás-os-Montes / Douro), onde existem várias estruturas bem conservadas e visitáveis, aliás integradas em circuitos turísticos.
Estas estruturas de pedra são conhecidas popularmente por "fojo dos lobos" e "silha dos ursos". As urseiras são bastante mais antigas, dado que o urso é um animal praticamente extinto na área há cerca de 800 anos, enquanto as lobeiras actualmente existentes datam na sua maioria do séc. XVII, tendo-se conservado activas até aos finais do séc. XIX.
Sobre as lobeiras, recomendo a consulta na internet dos seguintes artigos:
- "Os fojos dos lobos na Península Ibérica. Sua inventariação, caracterização e conservação"
Sobre as urseiras, o Parque Nacional da Peneda-Gerês publicou um desdobrável de divulgação, da autoria de José Ginja, intitulado "Trilho Interpretativo das Silhas dos Ursos".
Serve este comentário para recordar muito brevemente alguns dados básicos a respeito da suposta Atlântida, agora subitamente "renascida" no Celtiberia com a finalidade aparente de postular que os seus sobreviventes teriam nadado - num sprint de proporções verdadeiramente homéricas - até à Galiza, carregados "de nuevas técnicas de agricultura y ganadería", para depois de haverem gozado o merecido descanso na ria de Noia disseminarem "sus conocimientos por los lugares más diversos"…
O mito da civilização perdida da Atlântida baseia-se em dois diálogos de Platão, o "Timeu" e o "Crítias", em que o autor ilustra as suas concepções utópicas de filosofia política recorrendo à história fabulosa de uma ilha "maior que a Líbia e a Ásia juntas", situada para além das colunas de Hércules, num "ponto distante do oceano Atlântico". A gigantesca ilha - da qual nunca nenhum geólogo conseguiu descobrir vestígios evidentes - teria sido inteiramente submersa na sequência de uma catástrofe de enormes proporções ocorrida "há nove mil anos", numa época em que a Europa se aproximava dos finais da glaciação de Würm; a catástrofe ter-se-ia registado, portanto, há aproximadamente 11.300 anos, já que Platão escreveu aqueles dois diálogos há cerca de 2.300 anos.
Não será demais sublinhar que, anteriormente a Platão, não é conhecida qualquer outra referência a esta suposta civilização. A historieta teria sido contada ao estadista e poeta grego Solon por sacerdotes egípcios; porém, também não existem quaisquer textos egípcios conhecidos que nos falem da Atlântida. Por isso mesmo já autores antigos como Aristóteles, Plutarco, Jâmblico, Pórfiro, Plínio o Velho ou Orígenes negaram a existência real desta ilha-continente.
O mito - palavra que neste caso é uma expressão amável e educada para significar disparate - foi relançado no séc. XIX por Brasseur de Bourbourg na sua "tradução" de um códice maia (o "Codex Troano", documento totalmente inventadoo) e, posteirormente, pelos escritos de Augustus Le Plongeon e de Ignatius Donnelly, tendo sido por estes dois últimos autores a Atlântida identificada com o continente perdido de Mu (mais um!) , ou a Lemúria dos teosofistas, segundo Helena Petrovna Blavatsky e Annie Besant.
O tema seria popularizado nos anos 20 e 30 do século passado por James Churchward, que localizou o continente de Mu no Oceano Pacífico, baseando-se numas "tabuletas de Naacal" pretensamente escritas nessa língua desconhecida e que lhe teriam sido traduzidas por um misterioso sacerdote hindu em 1866. Churchward considerava Mu o berço de toda a humanidade e defendia igualmente a existência da Atlântida, localizando-a a meio do Atlântico; os seus habitantes seriam descendentes dos de Mu. Os primeiros humanos teriam ali aparecido há dois milhões de anos, chegando a atingir o número de 63 milhões; fundaram colónias em todo o mundo, lançando as bases de todas as religiões conhecidas; estavam agrupados em dez raças e em sete cidades principais, submetidas ao imperador Ra Mu; o continente teria ficado submerso há cerca de 12 mil anos, devido à explosão de bolsas de gás submarinas e aos consequentes terramotos e maremotos.
Falar hoje da Atlântida como se de uma realidade histórica se tratasse - ainda que "por supuesto en altíssimos niveles de especulación" (!) - é na verdade tão verosímil como afirmar que a celebérrima caverna a que Platão se refere no livro VII da "República" existiu realmente!
No entanto, Platão poderá de facto ter-se baseado em alguns acontecimentos históricos referentes à destruição de ilhas ou localidades mediterrânicas, como o afundamento da ilha de Atalante, violentamente destruída por um maremoto em 426 a. C. (um ou dois anos antes de o filósofo ter nascido), ou o terramoto e maremoto que destruiram a cidade de Heliké e o seu templo dedicado a Poseidon em 373 a. C. (Platão escreve o "Timeu" cerca de 360 a.C.), para a partir deles construir o mito de uma cidade ideal. Aliás, não foi a única vez que utilizou este recurso, já que repetirá o mesmo tipo de novela simbólica numa outra obra, "As Leis", em que inventa e descreve a cidade ideal de Magnesia.
"Celtiberia.net es un portal privado e independiente para el estudio y la difusión de la prehistoria, protohistoria e historia (hasta la edad media) en la Península Ibérica (…), donde los usuarios puedan intercambiar conocimientos y contribuir a la creación de una enciclopedia sobre el universo celtibérico (…). Cualquier persona, independientemente de su raza, etnia, sexo, nacionalidad, edad, orientación sexual o ideología (siempre que sea respetuosa), es invitada a participar en este proyecto."
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Estes são os objectivos e as normas divulgadas no próprio portal Celtiberia, que parecem ter sido esquecidos por alguns dos intervenientes. Artigos lamentáveis como "Las Mentiras de la Iglesia Catolica" - e alguns dos infelizes e insuportáveis comentários que suscitou - infringem-nos de maneira absoluta e insustentável, de forma gratuita, ofensiva, insultante e desrespeitosa. Com a agravante de que o texto nada tem que ver com análise histórica, mas apenas com incultura e proselitismo acrítico.
Como reagir, no futuro, a artigos semelhantes? Sugiro que sejam simplesmente ignorados e totalmente desprezados. Sem qualquer comentário. Sem qualquer resposta. Sem qualquer reacção. Neste caso, quem cala não consente: apenas evidencia que quem fala não merece ser ouvido e que, ao utlizar linguagem abusiva, se colocou à margem da comunidade - e que assim deve permanecer.
É verdade que o direito à ignorância e ao insulto é livre. Mas não temos de o compreender e incentivar na nossa própria casa.
Neste caso, não creio que o artigo e alguns dos comentários devam ser cortados, apesar de claramente insultuosos e despropositados num forum com as características do Celtiberia.
É bom que permaneçam, quanto mais não seja por motivos "didácticos": trata-se de modelos emblemáticos de "como não" pensar a História e de como a deturpar - além de que ficamos a conhecer melhor a fina personalidade dos seus autores, o que é sempre útil.
Ao fim e ao cabo, a censura deve ser aplicada com parcimónia. Censurar diatribes é atribuir-lhes importância que não têm, contribuindo para que os respectivos autores se sintam "mártires".
Pela minha parte, não me apetece satisfazer-lhes a vontade.
Biblioteca: Apontamentos para uma litolatria cristã
Muito obrigado pelo teu comentário! Agradeço a tua informação sobre o Santuário de Pastoriza, sobretudo no que diz respeito ao facto de os romeiros darem três voltas em t orno da imagem da Virgem.
Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
Heitor B. Pato
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Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
Heitor B. Pato
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Muito obrigado pelo teu comentário! Agradeço a tua informação sobre o Santuário de Pastoriza, sobretudo no que diz respeito ao facto de os romeiros darem três voltas em t orno da imagem da Virgem.
Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
Heitor B. Pato
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Muito obrigado pelo teu comentário! Agradeço a tua informação sobre o Santuário de Pastoriza, sobretudo no que diz respeito ao facto de os romeiros darem três voltas em t orno da imagem da Virgem.
Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
Heitor B. Pato
Biblioteca: Apontamentos para uma litolatria cristã
Muito obrigado pelo teu comentário! Agradeço a tua informação sobre o Santuário de Pastoriza, sobretudo no que diz respeito ao facto de os romeiros darem três voltas em t orno da imagem da Virgem.
Se puderes, esclarece-me uma dúvida: as três voltas são dadas no sentido dos ponteiros do relógio ou, pelo contrário, na direcção oposta?
Heitor B. Pato
Biblioteca: A serra de Sintra (Portugal): cultos à Lua, ao Sol e a Saturno
Acontece o mesmo em Portugal. O culto a Saturno está bem documentado no cabo de Sagres/S. Vicente e nas ilhas Berlengas, frente ao cabo Carvoeiro; e pode ser deduzido, com forte probabilidade, para o cabo da Roca.
Em todos estes casos, trata-se de zonas fronteiras ao mar oceânico, onde o sol mergulha no seu ocaso, e que por esse motivo sempre foram consideradas locais de repouso dos mortos - e, portanto, local de eleição para os "dii inferi ", ou deuses infernais.
Biblioteca: A serra de Sintra (Portugal): cultos à Lua, ao Sol e a Saturno
Acontece o mesmo em Portugal. O culto a Saturno está bem documentado no cabo de Sagres/S. Vicente e nas ilhas Berlengas, frente ao cabo Carvoeiro; e pode ser deduzido, com forte probabilidade, para o cabo da Roca.
Em todos estes casos, trata-se de zonas fronteiras ao mar oceânico, onde o sol mergulha no seu ocaso, e que por esse motivo sempre foram consideradas locais de repouso dos mortos - e, portanto, local de eleição para os "dii inferi ", ou deuses infernais.
Biblioteca: Tritões e Sereias nos mares de Olisipo (Lisboa): de Plínio o Velho aos autores do séc. XVIII
Agradecendo desde já a colaboração de todos os "celtiberos", gostaria de acrescentar ao meu artigo uns breves apontamentos sobre a origem das sereias. Não o fiz inicialmente, porque o artigo visava unicamente a permanência popular dos avistamentos na costa litoral da zona de Lisboa entre o séc. I e o séc. XVIII.
A questão é, de facto, bastante complicada... Na antiguidade grega, as "sereias" (grego "seirên", "seirênes") eram entendidas como entidades femininas com rosto de mulher e corpo e patas de ave, normalmente representadas com asas, como se pode observar num famoso vaso grego do British Museum (ver foto: http://www.theoi.com/Pontios/Seirenes.html ), datado de 480-470 a.C. Só posteriormente passaram a ser representadas como mulheres com a parte inferior do corpo em forma de peixe - tal como acontecia já com o "protótipo" assírio da deusa Atargatis, a que os gregos chamaram Derketo; este tipo de sereias tinha a sua contrapartida masculina no "Tritão" (grego "Tritôn"), filho de Poseidon e de Anfitrite (ver foto: www.theoi.com/Pontios/Triton.html)
Para complicar ainda mais a questão, os gregos falavam também de Nereides, deusas do mar ou ninfas, filhas de Nereus, que viviam no Egeu comandadas por Thetis; eram sempre representadas por jovens donzelas, cavalgando seres marinhos como golfinhos, hipocampos ou animais fantásticos (ver foto: http://www.theoi.com/Pontios/Nereides.html ). Não é, porém, neste sentido que Plínio as refere, mas sim como seres verdadeiramente marinhos.
Como se a complicação não fosse já suficiente, temos ainda na Idade Média europeia as "melusines" ou "melusinas", espíritos dos rios e das fontes naturais, representados sob a forma de uma mulher que, da cintura para baixo, é um peixe ou uma serpente; por vezes, apresenta também asas (ver foto: http://en.wikipedia.org/wiki/Melusine; apesar de estar na famigerada wikipedia, trata-se de um bom artigo). Delas afirma descender a família dos Lusignan, que também tem representação em Portugal.
Finalmente, e para aumentar ainda mais a confusão: em língua inglesa, as mulheres/aves designam-se por "sirens", enquanto as mulheres/peixe se designam por "mermaids". Em português, porém, tal como (ao que julgo) em espanhol, francês ou italiano, existe apenas uma mesma palavra para designar ambas as realidades: "sereia", "sirena", "sirène", "syrena"… o que em nada ajuda a clarificar a questão.
A imagem hoje "clássica" das sereias como metade mulher, metade homem foi popularizada na obra de um autor de Alexandria e que ficou conhecida sob a designação de "Physiologus" (ver: http://www.newadvent.org/cathen/12068a.htm). Traduzida para latim cerca do ano 400 - mas publicada em grego talvez já no séc. II d. C. - atingiu enorme notoriedade e divulgação, nomeadamente entre os autores cristãos. Aí eram as sereias descritas como monstros marinhos "maravilhosamente formados como uma mulher da cintura para cima e como um peixe do umbigo para baixo".
A tradiçao homérica das sereias, entendidas como seres que atormentam os marinheiros, permaneceu bem viva ao longo de toda a Idade Média europeia. Sirva como apenas um entre inúmeros exemplos o que relata o autor de uma crónica do séc. XII, um cruzado que participou na conquista da cidade de Lisboa aos Mouros pelo primeiro rei português, D. Afonso Henriques, em 1147 (há exactamente 860 anos): depois de os cruzados terem partido de Inglaterra e de terem avistado "os cumes dos montes Pirinéus", sobreveio um forte temporal que dispersou a armada. "A cerrada escuridão da noite e a extraordinária força das correntes marítimas levavam o desespero aos marinheiros, mesmo aos mais destemidos. Ouviram-se então sereias de voz horripilante, primeiro como de pranto, depois como de riso e gargalhadas, semelhantes a clamores de um arraial que nos insultasse".
Com os Descobrimentos Marítimos protagonizados por Portugal e Espanha, o conhecimento de espécies até então ignoradas, como os manatis (Senegal e costas americanas, da Florida à Amazónia) e dugondos (Oceano Índico) juntaram-se aos avistamentos "clássicos" de focas marinhas no Mediterrâneo e em parte da costa ocidental africana, alimentando as antigas lendas e contribuindo para um ressurgimento do mito das sereias e dos tritões.
Ver também, sobre as primitivas sereias gregas: http://216.239.59.104/search?q=cache:Gg2Sg1MgllwJ:homepage.mac.com/cparada/GML/SIRENS.html+siren+greek&hl=pt
Biblioteca: Sinais do nascimento de Cristo na Hispânia: dos prodígios solares à queda de Endovélico
Muito obrigado pelo seu comentário e pela sua correcção e aditamento à bibliografia (o Carlos Eduardo LUNA já está com o apelido correcto e acrescentei a referência ao artigo da "Madrider Mitteilungen", que não conhecia... infelizmente, não leio alemão).
Também não conheço uma única referência clássica à queda de estátuas de deuses na Hispânia coincidindo com o nascimento de Cristo. Trata-se, evidentemente, de uma interpolação fantasiosa feita por autores cristãos tardios, tentando comprovar que o Extremo Ocidente teria sido eleito por Cristo ("a luz que nasceu no Oriente") como local privilegiado da Cristandade desde os primeiros tempos. Situa-se na mesma ordem de razões "catequéticas" e simbólicas, pseudo historiográficas, que conduziram à lenda da vinda do apóstolo Santiago a Compostela.
Obviamente, a destruição das estátuas a que se assistiu no santuário de Endovélico não é contemporânea do nascimento de Cristo: o culto ao deus indígena manteve-se, com total pujança, pelo menos até ao séc. III, podendo mesmo ter continuado em época posterior. Mas parece não haver dúvida de que as imagens foram voluntariamente quebradas e "armazenadas" na base do templo cristão ali erigido sob a invocação de São Miguel Arcanjo, em época incerta: tratar-se-ia da (re)sacralização de um local que entretanto fora fortemente "satanizado" pelos cristãos, até por causa da própria monumentalidade do santuário romano - satanização essa que poderá aliás estar na origem do hidrotopónimo Lucefecit para a ribeira que lhe corre próxima (assunto a que regressarei num futuro artigo).
Creio que será a partir da época em que a ermida de São Miguel da Mota foi erigida que se terá começado a construir lentamente o mito historiográfico da destruição das imagens. Quando, a partir do Renascimento, os autores procuraram estabelecer a antiguidade da Lusitânia e afirmá-la como local privilegiado e predestinado, a tentação de transformar as ruínas do santuário de Endovélico em exemplo "divino" foi mais forte do que eles... e assim se terá firmado o mito da queda preternatural de Endovélico, força demoníaca e infernal derrotada pelo novo Deus que à Hispânia e à sua região mais ocidental viera trazer a luz salvífica.
Biblioteca: Tritões e Sereias nos mares de Olisipo (Lisboa): de Plínio o Velho aos autores do séc. XVIII
Maruos: obrigado pelas referências bibliográficas.
Biblioteca: Tritões e Sereias nos mares de Olisipo (Lisboa): de Plínio o Velho aos autores do séc. XVIII
Maruos: obrigado pelas referências bibliográficas.
Biblioteca: Lucefécit/Lucifer e o santuário de Endovélico: um epónimo do "príncipe das trevas"?
Servan: obrigado pelo comentário.
Lucifer designa originalmente, na tradição greco-latina, o "portador da luz", identificando o planeta Vénus, também conhecido como estrela da manhã (ou do ocaso). É neste sentido que aparece, por exemplo, nas Geórgicas de Virgílio (III, 324-5): "Luciferi primo cum sidere frigida rura carpamus"" ("Atravessemos os frescos campos às primeiras luzes de Lucifer").
Este "primeiro" Lucifer nada tem que ver com o "segundo" Lucifer, posteriormente criado/inventado pela tradição cristã e que será identificado com Satan, que os cristãos transformam no Grande Demónio atormentador do homem e inimigo de Deus. A antiga e inocente estrela da manhã (Vénus) passou assim - pelas enviesadas artes interpretativas dos comentaristas cristãos - a estar ligada a Satan, o grande e terrível acusador.
O termo Satã deriva da raiz semítica "stn", que significa "acusar", "ser hostil", "agir como um adversário", e aparece no Antigo Testamento com o sentido de "acusar" (que poderíamos até traduzir, com algum humor maldoso, por "satanizar"…). A Septuaginta traduz o termo por "endiabállo", significando caluniar, ou por "diábolos", significando caluniador. Já a Bíblia de Jerusalém traduz geralmente por "acusar".
Ignoro se o arco-íris se chama o arco de Shaitan. Sei apenas que na mitologia grega foi criado pela deusa Íris, a mensageira dos deuses: viajando à velocidade do vento, deixava atrás de si um rasto luminoso simbolizando a união entre os deuses e os homens (ideia que também se encontra no Antigo Testamento, onde o arco-íris é o símbolo da aliança de Deus com os homens). O nome da deusa Íris continua perpetuado na palavra arco-íris, comum às línguas portuguesa e castelhana.
Biblioteca: Lucefécit/Lucifer e o santuário de Endovélico: um epónimo do "príncipe das trevas"?
Onnega: essa etimologia é precisamente a que propõe José Pedro Machado no seu "Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa". Referindo-se ao antigo "Udialuicivez", vê nele o árabe "udi" e o nome "vez", que qualifica de pré-celta.
O problema é que a etimologia é uma disciplina (muito) traiçoeira... É verdade que no documento de 911, em que o rei Vermudo II oferece vários bens ao bispo de Santiago, surge "portella de Uice" ("vale de Vice"), podendo indicar uma suposta raiz paleoeuropeia que estaria na origem da actual Arcos de Valdevez, nas margens do rio Lima. A mesma "portella de Uice" é aliás mencionada num inventário de 1059, mas referente ao séc. X, do Mosteiro de Guimarães.
Só que um outro lugar chamado Valdevez, na freguesia de Ucanha, concelho de Tarouca, tem uma etimologia mais bem conhecida - e que parece nada ter que ver com origens paleoeuropeias.
Naquele caso, a forma "valle de Vez" surge já documentada em 1125, quando D. Teresa, mãe do primeiro rei de Portugal, doa o mosteiro de Ázere à catedral de Tuy. Mas, numa carta do couto de Ageriz, passada em 1152 e em que se descrevem os respectivos limites, diz-se que eles se iniciavam "per portum de Alvares a portu de Muates et per illum montem qui dicitur Averiz" (ou "Averici", noutra versão, que evolui para "Aveici" > "Aveis" > "Avez"). A questão é que o Averiz do séc. XII é provavelmente o genitivo do nome próprio de origem germânica Alvericus; e Vale de Avez - como ainda hoje é pronunciado pelo povo - teria assim derivado de uma "villa Alverici".
Seria esta explicação também possível para o outro Valdevez do rio Lima? Ignoro. Mas fica a dúvida.
Pessoalmente, e no que respeita a "udialuiviuez" > "Lucefece", creio que será sempre muito difícil optar por qualquer uma das várias etimologias propostas. O que de facto me parece não sofrer dúvida é que, a partir de determinada altura, o hidrónimo foi identificado pelas populações locais com Lucifer, e certamente por influência do vizinho santuário de Endovélico.
Biblioteca: Tritões e Sereias nos mares de Olisipo (Lisboa): de Plínio o Velho aos autores do séc. XVIII
Profª Alícia Canto: muito obrigado pelo seu comentário. E respondo desde já à sua pergunta: sim, as sereias existiram mesmo!...
Já conhecia o texto de Damião de Góis, que aliás menciono no meu artigo. E é precisamente esse documento que permite concluir - sem qualquer dúvida - que os tritões e sereias eram animais marinhos realmente existentes e não simplesmente uma "espécie" herdeira dos mitos clásicos.
O documento original a que Damião de Góis se refere consta da chancelaria de D. Afonso III, estando datado de 1274. Foi publicado por Pedro d'Azevedo ("Sereias", in "Revista Lusitana", nº 3, 4º vol., Lisboa, Antiga Casa Bertrand, 1896, p. 287)
Lê-se no texto: "E se per ventura algua Balea ou Baleato ou serea ou coca ou Roaz ou Musaranha ou outro pescado grãde que semelhe alguu destes morrer em Sesimbra ou em Silves ou em outros lugares da Ordim [de Santiago] que El Rey aia ende seu dereyto." ("E se porventura alguma baleia ou baleato ou sereia ou coca ou roaz ou musaranha ou outro pescado grande que se assemelhe a algum destes morrer em Sesimbra ou em Silves ou noutros lugares da Ordem de Santiago, que o Rei receba deles o seu direito").
Vê-se, assim, que "serea" era apenas mais uma espécie marítima, tão real como as baleias, os roazes ou "outro pescado grande". Tratar-se-ia, muito provavelmente, de lobos marinhos ou focas-monge (Monachus monachus), espécies ainda relativamente frequentes nas águas atlânticas portuguesas até ao séc. XVIII, e que abrangiam uma vasta área geográfica cobrindo todo o Mediterrâneo e parte da costa ocidental africana. Foram talvez os avistamentos destas espécies que estiveram na origem - ou reforçaram - o mito das sereias e tritões, pelo menos no que se refere à tradição clássica.
Biblioteca: Sobre la supuesta “Silla de Felipe II” en El Escorial (Madrid)
Profª Canto,
Junto lhe envio um link que certamente lhe interessará, sobre o possível "santuário de cadeiras" (sillas) do Pé do Coelho, em Gouveia.
http://www.csarmento.uminho.pt/docs/ndat/rg/RGVE1999_041.pdf
Biblioteca: "Cortello" de lobos
Um breve apontamento, apenas para recordar que as armadilhas para lobos e ursos estão igualmente documentados no Norte de Portugal (Minho / Trás-os-Montes / Douro), onde existem várias estruturas bem conservadas e visitáveis, aliás integradas em circuitos turísticos.
Estas estruturas de pedra são conhecidas popularmente por "fojo dos lobos" e "silha dos ursos". As urseiras são bastante mais antigas, dado que o urso é um animal praticamente extinto na área há cerca de 800 anos, enquanto as lobeiras actualmente existentes datam na sua maioria do séc. XVII, tendo-se conservado activas até aos finais do séc. XIX.
Sobre as lobeiras, recomendo a consulta na internet dos seguintes artigos:
- "Os fojos dos lobos na Península Ibérica. Sua inventariação, caracterização e conservação"
http://www.secem.es/GALEMYS/PDF%20de%20Galemys/12%20(NE).pdf/06.%20Alvares%20et%20al%20%20(57-77).pdf.
- "Testemunhos da ancestral relação entre o lobo e as comunidades rurais na Serra de Arga"
http://loboarga.naturlink.pt/Artigo_Pedro_&_Francisco.htm
Sobre as urseiras, o Parque Nacional da Peneda-Gerês publicou um desdobrável de divulgação, da autoria de José Ginja, intitulado "Trilho Interpretativo das Silhas dos Ursos".
Biblioteca: Platón y el mito de la Atlántida
Serve este comentário para recordar muito brevemente alguns dados básicos a respeito da suposta Atlântida, agora subitamente "renascida" no Celtiberia com a finalidade aparente de postular que os seus sobreviventes teriam nadado - num sprint de proporções verdadeiramente homéricas - até à Galiza, carregados "de nuevas técnicas de agricultura y ganadería", para depois de haverem gozado o merecido descanso na ria de Noia disseminarem "sus conocimientos por los lugares más diversos"…
O mito da civilização perdida da Atlântida baseia-se em dois diálogos de Platão, o "Timeu" e o "Crítias", em que o autor ilustra as suas concepções utópicas de filosofia política recorrendo à história fabulosa de uma ilha "maior que a Líbia e a Ásia juntas", situada para além das colunas de Hércules, num "ponto distante do oceano Atlântico". A gigantesca ilha - da qual nunca nenhum geólogo conseguiu descobrir vestígios evidentes - teria sido inteiramente submersa na sequência de uma catástrofe de enormes proporções ocorrida "há nove mil anos", numa época em que a Europa se aproximava dos finais da glaciação de Würm; a catástrofe ter-se-ia registado, portanto, há aproximadamente 11.300 anos, já que Platão escreveu aqueles dois diálogos há cerca de 2.300 anos.
Não será demais sublinhar que, anteriormente a Platão, não é conhecida qualquer outra referência a esta suposta civilização. A historieta teria sido contada ao estadista e poeta grego Solon por sacerdotes egípcios; porém, também não existem quaisquer textos egípcios conhecidos que nos falem da Atlântida. Por isso mesmo já autores antigos como Aristóteles, Plutarco, Jâmblico, Pórfiro, Plínio o Velho ou Orígenes negaram a existência real desta ilha-continente.
O mito - palavra que neste caso é uma expressão amável e educada para significar disparate - foi relançado no séc. XIX por Brasseur de Bourbourg na sua "tradução" de um códice maia (o "Codex Troano", documento totalmente inventadoo) e, posteirormente, pelos escritos de Augustus Le Plongeon e de Ignatius Donnelly, tendo sido por estes dois últimos autores a Atlântida identificada com o continente perdido de Mu (mais um!) , ou a Lemúria dos teosofistas, segundo Helena Petrovna Blavatsky e Annie Besant.
O tema seria popularizado nos anos 20 e 30 do século passado por James Churchward, que localizou o continente de Mu no Oceano Pacífico, baseando-se numas "tabuletas de Naacal" pretensamente escritas nessa língua desconhecida e que lhe teriam sido traduzidas por um misterioso sacerdote hindu em 1866. Churchward considerava Mu o berço de toda a humanidade e defendia igualmente a existência da Atlântida, localizando-a a meio do Atlântico; os seus habitantes seriam descendentes dos de Mu. Os primeiros humanos teriam ali aparecido há dois milhões de anos, chegando a atingir o número de 63 milhões; fundaram colónias em todo o mundo, lançando as bases de todas as religiões conhecidas; estavam agrupados em dez raças e em sete cidades principais, submetidas ao imperador Ra Mu; o continente teria ficado submerso há cerca de 12 mil anos, devido à explosão de bolsas de gás submarinas e aos consequentes terramotos e maremotos.
Falar hoje da Atlântida como se de uma realidade histórica se tratasse - ainda que "por supuesto en altíssimos niveles de especulación" (!) - é na verdade tão verosímil como afirmar que a celebérrima caverna a que Platão se refere no livro VII da "República" existiu realmente!
No entanto, Platão poderá de facto ter-se baseado em alguns acontecimentos históricos referentes à destruição de ilhas ou localidades mediterrânicas, como o afundamento da ilha de Atalante, violentamente destruída por um maremoto em 426 a. C. (um ou dois anos antes de o filósofo ter nascido), ou o terramoto e maremoto que destruiram a cidade de Heliké e o seu templo dedicado a Poseidon em 373 a. C. (Platão escreve o "Timeu" cerca de 360 a.C.), para a partir deles construir o mito de uma cidade ideal. Aliás, não foi a única vez que utilizou este recurso, já que repetirá o mesmo tipo de novela simbólica numa outra obra, "As Leis", em que inventa e descreve a cidade ideal de Magnesia.
Biblioteca: LAS MENTIRAS DE LA IGLESIA CATOLICA
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Estes são os objectivos e as normas divulgadas no próprio portal Celtiberia, que parecem ter sido esquecidos por alguns dos intervenientes. Artigos lamentáveis como "Las Mentiras de la Iglesia Catolica" - e alguns dos infelizes e insuportáveis comentários que suscitou - infringem-nos de maneira absoluta e insustentável, de forma gratuita, ofensiva, insultante e desrespeitosa. Com a agravante de que o texto nada tem que ver com análise histórica, mas apenas com incultura e proselitismo acrítico.
Como reagir, no futuro, a artigos semelhantes? Sugiro que sejam simplesmente ignorados e totalmente desprezados. Sem qualquer comentário. Sem qualquer resposta. Sem qualquer reacção. Neste caso, quem cala não consente: apenas evidencia que quem fala não merece ser ouvido e que, ao utlizar linguagem abusiva, se colocou à margem da comunidade - e que assim deve permanecer.
É verdade que o direito à ignorância e ao insulto é livre. Mas não temos de o compreender e incentivar na nossa própria casa.
Biblioteca: LAS MENTIRAS DE LA IGLESIA CATOLICA
Neste caso, não creio que o artigo e alguns dos comentários devam ser cortados, apesar de claramente insultuosos e despropositados num forum com as características do Celtiberia.
É bom que permaneçam, quanto mais não seja por motivos "didácticos": trata-se de modelos emblemáticos de "como não" pensar a História e de como a deturpar - além de que ficamos a conhecer melhor a fina personalidade dos seus autores, o que é sempre útil.
Ao fim e ao cabo, a censura deve ser aplicada com parcimónia. Censurar diatribes é atribuir-lhes importância que não têm, contribuindo para que os respectivos autores se sintam "mártires".
Pela minha parte, não me apetece satisfazer-lhes a vontade.
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