Autor: Pedro Calafate
miércoles, 05 de octubre de 2005
Sección: Artículos generales
Información publicada por: bracarense
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S. Martinho de Dume
Nascido na Panónia entre 518-525 e falecido em 579, foi Bispo da diocese de Braga e fundador do mosteiro de Dume, tendo-se revelado um dos principais instigadores do movimento monacal e da cristianização nesta região da Península. Foi autor de um conjunto de pequenos tratados de conteúdo eminentemente ético, entre os quais a Formula vitae honestae, durante muitos séculos atribuído a Séneca, o qual constitui também um dos primeiros tratados, escritos entre nós, da corrente literária de "espelho de príncipes", que tanta fortuna viria a alcançar na Idade Média.
Destacou-se também pela recompilação das sentenças dos Padres do Deserto (Aegyptiorum Patrum Sententiae), que prolongou numa série de escritos de espiritualidade monacal, antecipando-se a Sto. Isidoro e Tajón, e também pelo seu De correctione rusticorum, que marcará o rumo tomado pela pastoral da igreja, sobretudo após o concílio toledano III (589).
A sua obra principal, a Formula vitae honestae, dedicada ao rei dos Suevos, é elaborada seguindo apenas os preceitos da razão natural, sem recurso à moral revelada e, portanto, sem apoio na exegese bíblica, facto pouco comum entre os autores cristãos. Disserta sobretudo sobre as quatro virtudes cardinais, numa linha muito marcada pelo estoicismo, tendo em vista a formação do homem prudente e sábio, caracterizado pela ponderação e pela superação da dimensão aparencial da vida. O homem que a si próprio se basta, que busca apenas o que pode alcançar e que não se arroja a coisa mais alta, na qual não possa sustentar-se sem temor, nem subir sem queda. O homem capaz de viver desassustado e que espera desassombradamente a morte como momento de libertação da tribulação do mundo, resgatando por pouco os seus desejos, por só dever cuidar em que eles cessem, amoldando-se ao divino exemplar.
Mas por ser obra dedicada a um chefe temporal, entre as quatro virtudes emerge naturalmente a justiça, assente na lei natural, como participação da lei divina, tácita convenção da natureza e vínculo da humana sociedade, ou não fosse a justiça, na tradição do pensamento cristão o principal sustentáculo do poder temporal.
Já no seu Tratado dos Costumes (De Moribus), prolonga o tema da obra anterior, mas reforça a sua componente ascética, como era timbre do movimento monacal de então, no quadro de um ideal de recolhimento e de purificação interior, assumindo-se a solidão como a forma mais prudente de viver com inculpáveis, por ter melhor e mais formoso ânimo aquele que trata sobretudo com Deus.
Seguem-se os tratados De ira, Pro repellenda jactancia, De superbia e Exhortatio humilitatis. O primeiro constitui um comentário da obra de Séneca com o mesmo nome, sendo a ira analisada no seu contraste com a prudência e a fortaleza, uma forma de loucura que desta apenas se distingue pela sua dimensão mais momentânea. O segundo e o terceiro tratados versam sobre a crítica ao orgulho e ao amor-próprio, que levam o homem a esquecer o quanto deve a Deus na consecução dos seus actos mais grandiosos. O quarto é o culminar dos anteriores, exortando a humildade como a mais excelente das virtudes cristãs, pois parecendo que mais rebaixa o homem, é no entanto a que mais o eleva, sendo mais alta que o céu, pois o conduz para o seu reino.
Uma última referência cabe ainda ao De correctione rusticorum, obra de fecundo interesse etnológico e antropológico, por fixar e descrever as práticas religiosas mais comuns entre as religiões pagãs da Galécia, em boa medida de inspiração céltica. Nesta obra, de intenção eminentemente evangelizadora, expõe o essencial da doutrina cristã acerca da criação do mundo e do homem, mas em fórmulas claras, tendo em vista o auditório a que se destinavam, transformando o pragmatismo e a simplicidade em caracteres gerais de doutrinação, em articulação com as exigências pastorais da época.
Pelo conjunto das suas obras de doutrinação moral, pela sua acção pastoral em prol da correcção dos rústicos, pela conversão do reino dos suevos e também pela acção cultural do mosteiro de Dume, por ele fundado, a qual se desenvolveu por toda a idade média, S. Martinho tem uma presença marcante nesta época remota da história cultural da Península.
Obras
Opúsculos Morais de S. Martinho Bracarense (tradução portuguesa de António Caetano do Amaral), Lisboa, 1768; Pastoral sobre a instrução dos rústicos, (tradução portuguesa de A. Aires do Nascimento), Lisboa, 1998. Para uma referência discriminada dos seus textos veja-se Francisco José Veloso, «Obras de S. Martinho de Dume» Bracara Augusta, XXIX, (1975), pp. 61-110.
Bibliografia
Luís Ribeiro Soares, A Linhagem Cultural de S. Martinho de Dume, Lisboa, 1998; A. Miranda Barbosa, O senequismo moral de S. Martinho Dumiense, Braga, 1954; id., «O senequismo medieval e o Corpus Martinianum» Biblos, XLI, Coimbra, 1965), pp. 181-191; VV.AA., Congresso do XIV centenário da chegada de S. Martinho de Dume à Península, Braga, 1950; Severiano Tavares, «O senequismo de S. Martinho de Dume», Revista Portuguesa de Filosofia, IV, 4 (1950); Elias de Tejada, «San Martín Dumiense como pensador político», Bracara Augusta, VIII, 1-2 (1957); J.M. Pinheiro Maciel, «O De correctione rusticorum de S. Martinho de Dume» Bracara Augusta, XXXIV, II, Braga (1980), pp. 484-561.
Más informacióen en: http://www.instituto-camoes.pt
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Obrigado pelo seu artigo, Pedro Calafate.
Martín de Dumio o de Braga, nombrado en 572 obispo de Bracara. Efectivamente con su "De correctione rusticorum", en su empeño de combatir los rituales de origen básicamente céltico arraigados entre la población de la Gallaecia, nos da noticias de indudable interés antropológico y etnográfico:
-(16.1) "Nam ad petras et ad arbores et ad fontes et per trivia cereolos incendere, quid est aliud nisi cultura diaboli?" [=En efecto, encender velas a las peñas, a los árboles, a las fuentes y en las encrucijadas, ¿qué otra cosa es sino culto al diablo?]
Martín de Dumio, en su afán por combatir el "paganismo", pasa por ser el responsable de que Portugal sea la única zona de la Romania en que los días de la semana no reciben su nombre de los antiguos dioses grecorromanos (Luna, Marte, Mercurio, Júpiter-Jove, Venus) sino que se cuentan como "ferias" a partir de la primera que es el "diem dominicum" (´="día del Señor", Domingo):
-(8) "...sunt dubii in tantum ut nomina ipsa daemoniorum in singulos dies nominent, et appellent diem Martis et Mercurii et Iouis et Veneris et Saturni, qui nullum diem fecerunt". [=Son cristianos dudosos en tanto que nombren a cada día con los mismos nombres de esos demonios y digan "día de Marte", "de Mercurio", "de Jove", "de Venus" y "de Saturno", que no hicieron día alguno].
-(9) "Qualis ergo amentia est ut homo baptizatus in fide Christi, diem dominicum, in quo Christus resurrexit, non colat et dicat se diem Iouis colere et Mercurii et Veneris et Saturni, qui nullum diem habent..." [=Cuál extravío es, pues, que persona bautizada en la fe de Cristo no honre el día del Señor (=domingo), en el que Cristo resucitó, y diga honrar el día de Jove, el de Mercurio, el de Venus y el de Saturno, que no tienen día alguno].
He aquí la explicación de que en Portugal los días de la semana reciban, de lunes a viernes, ese curioso adjetivo ordinal:
-Dies Lunae > lunes, en Portugal "segunda feira".
-Dies Martis > martes, en Portugal "terça feira".
-Dies Mercurii > miércoles, en Portugal "quarta feira".
-Dies Iovis > jueves, en Portugal "quinta feira".
-Dies Veneris > viernes, en Portugal "sexta feira".
En castellano, sólo en el sábado y en el domingo se impuso el nombre "cristiano".
Seguramente, Martín de Dumio había leído a Agustín de Hipona ("San Agustín", s. V), que, en su "Enarrationes in Psalmos" (psalmus 47) preconizó:
-"Vna sabbati, dies dominicus est; secunda sabbati, SECVNDA FERIA, quem saeculares diem lunae uocant; tertia sabbati, TERTIA FERIA, quem diem illi Martis uocant; quarta ergo sabbatorum, QVARTA FERIA, qui Mercurii dies dicitur a paganis, et a multis christianis; sed nollemus; atque utinam corrigant, et non dicant sic" [=La primera feria después del sabado es el Día del Señor (=domingo); la segunda después del sábado es la SEGUNDA FERIA, que los profanos llaman Día de la Luna (=lunes); la tercera después del sábado es la TERCERA FERIA, día al que aquéllos llaman de Marte (=Martes); en fin, la cuarta después del sábado es la CUARTA FERIA, nombrada Día de Mercurio por los paganos; mas no lo quisiéramos, y ojalá rectifiquen y no los nombren así].
Cumprimentos.
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