Autor: Heitor Baptista Pato
viernes, 16 de noviembre de 2007
Sección: Artículos generales
Información publicada por: HPato
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Lucefécit/Lucifer e o santuário de Endovélico: um epónimo do "príncipe das trevas"?
O hidrónimo Lucefécit, ribeira junto à qual se ergueu no Alentejo (Portugal) o santuário consagrado a Endovélico, constituirá na realidade um epónimo consagrando o nome de Lucifer, o "portador da luz" que os autores cristãos identificaram como o "príncipe das trevas"?
Em toda a Península Ibérica, o único santuário comprovadamente dedicado à divindade indígena-romanizada conhecida sob a invocação de Endovélico situa-se em Terena, Alandroal (Alentejo), junto à ribeira actualmente denominada Luceféce / Luciféce / Lucifécit. O hidrotopónimo aparece registado sob as formas equivalentes de "oyadaluiceuez", no ano de 1231, e de "udialuiciuez", no ano de 1262. A forma "Luçefece", a única que gráfica e prosodicamente sobreviveu até aos nossos dias, surge em plena época renascentista no Foral Novo outorgado pelo Rei D. Manuel I à vila do Alandroal em 1514.
A etimologia de Lucifer / Lucefece
A etimologia deste estranho e enigmático hidrónimo - o único conhecido em todo o território português e, creio, em toda a Península (se não em todo o Mundo) - tem suscitado diversas dúvidas por parte de diversos investigadores. De uma forma geral, foram maioritariamente sugeridas duas possíveis origens: uma raiz latina, proveniente de "lucifer", nome que em época cristã foi transformado em sinónimo de Satã/Demónio, ou uma raiz árabe, proveniente do substantivo "oucif", significando "negro".
Numa leitura alternativa desta última interpretação, parece-me legítimo considerar que "luicevez / luicivez" poderia ter sido não uma derivação de "oucif", mas sim a corruptela do substantivo "lucifer" na sua voz árabe-andaluz, dialecto que lentamente se fora constituindo a partir do séc. VIII e que se encontrava já plenamente normalizado desde o séc. X. Recordo que os topónimos veiculados em era islâmica não são unicamente oriundos do árabe; pelo contrário, formam-se frequentemente a partir da arabização fonética de vozes já presentes no território, originárias das corruptelas tardo-romanas (que, por sua vez e em muitos casos, "traduziram / adaptaram", ou "corromperam", antigos étimos pré-romanos). Constituem, assim, uma criação linguística moçárabe, em resultado da evolução linguística dos romances neo-latinos falados pelas populações locais.
Seja como for, a forma que sobreviveu até aos nossos dias é a de Luceféce ou Luciféce, voz que parece remeter directamete para Lucifer. Ora, uma indicação de que este sentido "infernal" do hidrotopónimo estaria bem presente no espírito das gentes do séc. XIII é-nos dado nas "Cantigas de Santa Maria", compiladas por Afonso X o Sábio e escritas em língua galaico-portuguesa.
"O rio de que seu nome non digo"
Nas "Cantigas de Santa Maria" surgem doze composições dedicadas a Santa Maria de Terena (canções 197, 198, 199, 213, 223, 224, 228, 275, 283, 319, 333 e 334), invocação venerada no lugar do mesmo nome no concelho do Alandroal, distrito de Évora, Portugal, num templo românico actualmente dedicado a Nossa Senhora da Boa Nova (ver foto).
Interessa-me aqui particularmente a canção nº CCXIII, intitulada "Como Santa Maria livrou u ome bõo en Terena de mão de seus emigos que o querian matar a torto, porque ll' apõyan que matara a ssa moller". No texto descreve-se como um homem de Elvas, chamado Tomé, fora acusado de haver assassinado a mulher, pelo que procurara auxílio no santuário de Terena; a família da mulher assassinada também ali se deslocara em perseguição do acusado, mas apenas haviam encontrado o demónio disfarçado sob a forma de Tomé. Lê-se na cantiga: "(…) foron-sse contra Terena, u sen dulta o cuidavan achar; mas o dem' acharon en forma del na ribeira (…) Dun rio que per y corre, de que seu nome non digo (…)".
Já em 1906 o arqueólogo e etnólogo Leite de Vasconcelos afirMara que o verso "de que seu nome non digo" se tratava manifestamente de uma alusão à ribeira de Lucefece. E por que motivo não diria o autor da cantiga o nome do rio? Parece-me que a razão é bem clara: porque o hidrotopónimo se referia de facto a Lucifer, então entendido por todos os autores cristãos como sinónimo de Satã.
Da estrela da manhã a Satan
A única menção em todo o Antigo Testamento à personagem que mais tarde os cristãos interpretarão como Lucifer surge no "Livro de Isaías", quando o profeta descreve a queda do rei da Babilónia: "Então proferirás este canto contra o rei da Babilónia, e dirás: Como cessou o opressor! A opressão acabou (…) Eis-te caído do céu, Astro brilhante, filho da aurora! Foste lançado por terra, tu , o vencedor das nações!" (14: 4,12).
Na versão hebraica, a expressão utilizada para se referir ao rei (e não a qualquer anjo) como "astro brilhante, filho da aurora" é "Helel ben Shahar" (helel = Vénus ou estrela da manhã, aquele que brilha + ben = filho + shahar = aurora). Segundo diversos autrores, na mitologia babilónia-cananita Helel era um deus associado à estrela da manhã, filho de outra divindade, Shahar, ou Shachar, deus da aurora.
Quando no séc. III a.C. se realiza a versão grega da Torah encomendada por Ptolomeu Philadelphus, conhecida como Septuaginta, a expressão hebraica é traduzida como "heosphoros" (heos = da manhã + phoros = o que transporta ou o que é transportado). Apesar de não ser uma tradução exacta, manteve o significado de portador da aurora, equivalente a "aquele que brilha".
No séc. IV, o Papa Dâmaso I - aliás, nascido na antiga Lusitânia - ordena ao seu secretário S. Jerónimo que traduza a Bíblia para latim. Nessa versão da Vulgata a expressão de Isaías é traduzida como "lucifer" (lux, lucis = luz + ferre = transportar, trazer), isto é, "o portador da luz"; na Nova Vulgata, realizada por determinação do Papa Paulo VI e aprovada por João Paulo II, alterou-se para "lucifer, fili aurorae". Em qualquer dos casos manteve-se o sentido do texto hebraico e é nesse mesmo sentido que o próprio Cristo é qualificado no Novo Testamento da Vulgata: "Eu sou a raiz e a geração de David, sou a estrela brilhante da manhã ("stella splendida et matutina") (Apocalipse, 22:16); "E temos por muito firme a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em prestar atenção, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e lucifer se erga nos vossos corações" ("et lucifer oriatur in cordibus vestris") (2ª Espístola de Pedro, 1:19).
Esta transformação do que originalmente fora um designativo do planeta Vénus/estrela da manhã num ser demoníaco surge logo em finais do séc. I d. C./inícios séc. II d.C. no texto "Vita Adae et Evae", um dos Pseudepigrapha de tradição judaica, que narra o exílio do Paraíso e faz intervir Satan como seu interlocutor (http://www.sacred-texts.com/chr/apo/adamnev.htm). Baseando-se nomeadamente em Ezequiel 28:14, 16, que se refere ao rei de Tiro ("Estavas no Éden, no jardim de Deus (…) Eras um querubim protector, de asas abertas (…) Precipitei-te da montanha de Deus e fiz-te desaparecer, querubim protector, do meio das pedras de fogo"), e no texto do Apocalipe 12:9 ("E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele"), comentaristas cristãos como Tertuliano e Orígenes também vieram no séc. II/III a interpretar Lucifer como o anjo caído que se revoltara contra Deus e fora expulso pelo arcanjo Miguel, identificando-o com a expressão hebraica "ha-satan", que significa originalmente "o adversário" ou "o acusador", tratando-se de um nome comum que designa uma função e não de um nome próprio. Tertuliano, por exemplo, nomeia claramente o querubim de Ezequiel como Satan ("Adversus Marcionem", Livro II, cap. 10) e Orígenes nomeia-o como Lucifer ("Ezekiel Opera", iii, 356).
A forma hebraica "satan" é equivalente ao "satana" aramaico, ao "shaitan" árabe e ao "satanás" grego-latino, por sua vez equivalentes ao latim "diabolus" e "daemon", respectivamente herdeiros do grego "diabolos" ("o difamador") e "daimon" (que designa indiferentemente seres intermédios entre o mundo dos mortais e o mundo dos deuses, divindades inferiores, fantasmas, génios).
Deuses pagãos e demónios
O termo latino "daemon, daemonis" irá ser aplicado pelos autores cristãos dos primeiros séculos aos antigos deuses pagãos e às suas representações, considerados filhos de Satan ou falsas deidades por ele inventadas para confundir a humanidade. Esta acepção está bem clara, por exemplo, em São Martinho de Dume: no seu sermão "De Correctione Rusticorum" associa aos demónios deuses como Vénus, Marte, Mercúrio, Júpiter ou Saturno, no que constitui um padrão de cristianização comum a todo o Ocidente: "Então o diabo e os demónios seus ministros ("diabolus vel ministri ipsius, daemones"), que tinham sido lançados fora do céu, vendo que os homens na sua ignorância haviam abandonado Deus seu criador (…), começaram a aparecer-lhes sob diversas formas, a falar com eles e a pedir-lhes que lhes oferecessem sacrifícios no cimo dos montes e nos bosques frondosos e lhes prestassem culto como a Deus (…), de tal modo que um se dizia Júpiter (…). A outro demónio se deu o nome de Marte (…). De seguida, outro demónio quis chamar-se Mercúrio (…) Outro demónio ainda aplicou a si próprio o nome de Saturno (…) Outro demónio fingiu também que era Vénus (…)" (7).
"Persuadiram-nos também os demónios ("daemones") a construírem-lhes templos, a colocarem aí imagens ou estátuas de homens criminosos e a levantarem-lhes altares nos quais lhes derramassem sangue não só de animais, mas até de seres humanos. Além disso, muitos demónios dos que foram expulsos do céu presidem no mar, ou nos rios, ou nas fontes ou nas florestas, a quem há homens que na sua ignorância de Deus lhes prestam culto e lhes oferecem sacrifícios como se fossem deuses. No mar chamam-lhes Neptuno, nos rios Lâmias nas fontes Ninfas, nos bosques Dianas, que todos são demónios malignos e espíritos nefandos ("omnia maligni daemones et spiritus nequam sunt") que atormentam e fazem mal aos homens sem fé que não sabem proteger-se com o símbolo da cruz" (8).
Neste texto catequético, também as práticas pagãs são no seu conjunto interpretadas como manifestações demoníacas:"Como é que alguns de vós, que haveis renunciado ao demónio e aos seus anjos ("diabolo et angelis eius"), e aos seus cultos e às suas obras más, agora regressais ao culto do diabo ("culturas diaboli")? Pois acender pequenas velas a pedras, a árvores e a fontes e pelas encruzilhadas, o que é senão culto ao diabo? Observar adivinhações, augúrios e os dias dedicados aos ídolos, que outra coisa é senão culto do diabo? Observar Vulcanálias e Calendas, ornar mesas, e pendurar louros, e fazer observância do pé, e derramar alimentos e vinho no fogo sobre um tronco, e atirar pão para a fonte, que outra coisa é senão culto do diabo? As mulheres invocarem Minerva no tear, e observarem o dia de Vénus para o casamento, e atenderem ao dia em que vão viajar, que outra coisa é senão culto do diabo? Fazer encantamentos de ervas para malefícios e invocar os nomes dos demónios ("nomina daemonum") com encantamentos, que outra coisa é senão culto ao diabo?" (16).
Os termos greco-latinos diabolos / daimon > diabolus / daemon > diabo / demónio vão, assim, ser rapidamente identificados na interpretatio cristã com Lucifer. E se o substantivo "demónio" passa a qualificar os velhos deuses pagãos, Lucifer - o planeta Vénus da antiguidade hebraica e greco-latina, agora transformado em sinónimo de Satã - passa a ser o grande senhor desses demónios, o arcanjo caído que na sua luta contra o Deus único e verdadeiro criou os deuses e ídolos que a humanidade falsamente adorava.
Lucifer na ribeira de Terena
Por outras palavras: Lucifer, que começara de algum modo por ser o Príncipe da Luz, acabará por virtude de interpolações cristãs transformado no Príncipe das Trevas, o senhor do Mal, a origem do erro contra Deus. E por isso é Lucifer, senhor dos demónios, o nome dado à ribeira em cuja proximidade geográfica se eguia o grande templo dedicado a Endovélico, com a sua extraordinária abundância de imagens de antigas deidades ou que assim foram entendidas pelas populações cristãs - isto é, de "demónios".
Referi-me já em artigo anterior no celtiberia.net ("Sinais do nascimento de Cristo na Hispânia:
dos prodígios solares à queda de Endovélico") ao achado neste santuário romano, no ano de 2002, de um depósito de estátuas voluntariamente quebradas e que em data não conhecida foram cuidadosamente arrumadas na base da igreja cristã consagrada a São Miguel Arcanjo, tendo sido usadas como entulho para preencher uma cavidade no substrato rochoso sobre as quais foram construídos um alicerce e uma parede. O culto a Endovélico manteve-se ali pujante pelo menos até ao séc. III e terá certamente continuado em época posterior. A quebra das imagens - evidentemente interpretadas como demónios - ocorreu certamente em época cristã (e recorde-se que o Codex de Teodósio ordenou em 15 de Novembro de 407, no seu livro XVI, 10, 19, a retirada das aras e das estátuas dos templos pagãos, com a sua destruição); e sobre essas deidades destruídas se edificou a igreja dedicada ao próprio arcanjo que expulsara Lucifer, representado com o dragão calcado aos pés, numa (re)sacralização de um local que entretanto fora fortemente "satanizado" pelos cristãos.
Curiosamente, a ribeira de Lucefece - um curso de água que apresenta caudal permanente numa região hidrologicamente pobre e que estabelece a ligação entre a Serra de Ossa e o rio Guadiana, junto a Juromenha, num curso tortuoso e encaixado numa área de xistos extremamente árida - nasce na freguesia de Rio de Moinhos (Borba), onde existe, pelo menos desde 1556, uma pequena emida dedicada a São Gregório Magno, precisamente o Papa que no séc. VI promoveu a cristianização dos bárbaros pagãos.
Convém sublinhar que o rio Lucefece foi desde muito cedo sacralizado com a erecção de santuários rochosos, com degraus escavados, como o santuário romano (e provavelmente pré-romano) da Rocha da Mina (Alandroal), e um outro, descoberto em 2006 pelo arqueólogo Manuel Calado, no monte onde se localiza o povoado calcolítico de S. Pedro, no Redondo. Por outro lado, na margem esquerda do rio Lucefece situa-se a estação arqueológica de Águas Frias, estudada por Victor S. Gonçalves e Manuel Calado. Aqui foi identificada uma verdadeira fábrica de placas de xisto decoradas, tão típicas da cultura megalítica alentejana: blocos de meteriais em bruto, blocos com o contorno de placas, placas sem qualquer gravura mas já polidas, placas polidas e gravadas e placas gravadas, mas sem estarem polidas. Esta oficina de "ídolos" data provavelmente dos dois últimos séculos do IV milénio do primeiro século do III milénio.
Conclusão
O hidrotopónimo Lucefece tem como origem etimológica o nome "lucifer", surgindo assim como um verdadeiro epónimo dessa velha "estrela da manhã" ou "portador da luz" que o cristianismo dos primeiros séculos (e a tradição cristã posterior) identificou com Satã. O nome foi dado em época histórica a um rio desde muito cedo sacralizado por sucessivas comunidades humanas, possivelmente por influência do vizinho santuário dedicado a Endovélico e numa "satanização" das inúmeras figurações escultóricas ali depositadas em voto de agradecimento ao deus pagão.
NOTA - Todas as trancrições da Bíblia, a não ser que de outro modo indicadas, são provenientes da Bíblia de Jerusalém, em tradução minha. Diversas traduções encontram-se disponíveis em:
http://www.bibliacatolica.com.br/
Entre inúmeros sites relacionados com o tema de Lucifer e o Demónio será útil consultar os seguintes:
http://www.newadvent.org/cathen/s.htm
http://www.spiritandtruth.org/teaching/documents/articles/18/18-contents.htm
http://jewishencyclopedia.com/
http://www.crivoice.org/lucifer.html
Para a obra "De Correctione Rusticorum", consultar a tradução castelhana em:
http://webs.advance.com.ar/pfernando/DocsIglMed/MartindeBraga_De_correctione_rusticorum.html
Para as "Cantigas de Santa Maria", consultar:
http://pt.wikisource.org/wiki/Categoria:Cantigas_de_Santa_Maria
BIBLIOGRAFIA
AMaraL, João Ferreira do e AMaraL, Augusto Ferreira do - "Povos Antigos em Portugal: paleoetnologia do território hoje português", Lisboa: Quetzal, 2000 (2ª ed.)
BRAGA, Martinho de - "Instrução pastoral sobre superstições populares. De correctione rusticorum", ed. trad. e coment. Aires Augusto Nascimento, colab. Maria João V. Branco, Lisboa:Cosmos 1997 (texto latino e tradução portuguesa)
FERNANDES, Maria Alice, KHAVLI, Abdallah e SILVA, Luís Fraga da - "A viagem de Ibn Ammâr de S. Brás a Silves", comunicação apresentada às I Jornadas "As vias do Algarve, da época romana à actualidade", São Brás de Alportel, 2006
GONÇALVES, Victor e CALADO, Manuel - "Working at Home (and Abroad): the Atelier of Engraved Schist Plaques of Águas Frias (Alandroal)", comunicação apresentada ao XV Congresso da União Internacional das Ciências Pré-Históricas e Proto-Históricas, Lisboa, Setembro 2006
MACHADO, J. P. - "Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa: Confluência, 1984
PEREIRA, Gabriel - "O santuário de Endovélico", in "Revista Archeologica", Lisboa: Typographia de Adolpho Modesto, vol. III, 1889, pp. 145-149
RIBEIRO, José Cardim - "Endovellicus", in "Religiões da Lusitânia. Loquuntur Saxa", Lisboa: Museu Nacional de Arquelogia, 2002
TERTULIANO - "Adversus Marcionem" (http://www.tertullian.org/anf/index.htm)
VASCONCELOS, J. Leite de - "Santa Maria de Terena no seculo XIII", in "O Archeologo Português", Lisboa: Imprensa Nacional, 1ª Série, vol. IX, 1905, pp. 341-343
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Onnega: essa etimologia é precisamente a que propõe José Pedro Machado no seu "Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa". Referindo-se ao antigo "Udialuicivez", vê nele o árabe "udi" e o nome "vez", que qualifica de pré-celta.
O problema é que a etimologia é uma disciplina (muito) traiçoeira... É verdade que no documento de 911, em que o rei Vermudo II oferece vários bens ao bispo de Santiago, surge "portella de Uice" ("vale de Vice"), podendo indicar uma suposta raiz paleoeuropeia que estaria na origem da actual Arcos de Valdevez, nas margens do rio Lima. A mesma "portella de Uice" é aliás mencionada num inventário de 1059, mas referente ao séc. X, do Mosteiro de Guimarães.
Só que um outro lugar chamado Valdevez, na freguesia de Ucanha, concelho de Tarouca, tem uma etimologia mais bem conhecida - e que parece nada ter que ver com origens paleoeuropeias.
Naquele caso, a forma "valle de Vez" surge já documentada em 1125, quando D. Teresa, mãe do primeiro rei de Portugal, doa o mosteiro de Ázere à catedral de Tuy. Mas, numa carta do couto de Ageriz, passada em 1152 e em que se descrevem os respectivos limites, diz-se que eles se iniciavam "per portum de Alvares a portu de Muates et per illum montem qui dicitur Averiz" (ou "Averici", noutra versão, que evolui para "Aveici" > "Aveis" > "Avez"). A questão é que o Averiz do séc. XII é provavelmente o genitivo do nome próprio de origem germânica Alvericus; e Vale de Avez - como ainda hoje é pronunciado pelo povo - teria assim derivado de uma "villa Alverici".
Seria esta explicação também possível para o outro Valdevez do rio Lima? Ignoro. Mas fica a dúvida.
Pessoalmente, e no que respeita a "udialuiviuez" > "Lucefece", creio que será sempre muito difícil optar por qualquer uma das várias etimologias propostas. O que de facto me parece não sofrer dúvida é que, a partir de determinada altura, o hidrónimo foi identificado pelas populações locais com Lucifer, e certamente por influência do vizinho santuário de Endovélico.
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