Autor: Ruy Ventura
miércoles, 20 de febrero de 2008
Sección: Toponimia
Información publicada por: Ruy Ventura
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Santa Maria d' Alva e Aljezur (Portugal)
Sobre o hagiónimo "Santa Maria de Alva" e o topónimo "Aljezur" (Portugal). O artigo será publicado brevemente na revista "Al-Rihana" nº 3.
A "Alva" de Santa Maria
1. A “Alva” de Santa Maria
“Nossa Senhora d’ Alva” é o orago da actual matriz de Aljezur, edificada de raiz por iniciativa do bispo D. Francisco Gomes do Avelar entre finais do século XVIII e princípios de oitocentos no extremo de um pequeno planalto, a nascente da “Várzea”, depois chamado “Igreja Nova”. Designada “Santa Maria d’ Alva” nos documentos medievais, era também a padroeira do templo que, durante vários séculos, se ergueu na parte cimeira da vila velha, no arrabalde norte do castelo, até que o terramoto de 1 de Novembro de 1755 o derrubou quase por completo.
A igreja actual, situada na “vila nova”, está orientada para nascente, cumprindo os cânones determinados pela Igreja Católica. Trata-se de um simples mas belo edifício neoclássico, precedido pelo embrião de um escadório (versão muito simplificada dos modelos nortenhos do Bom Jesus de Braga e da Senhora dos Remédios, em Lamego)[1].
O edifício cultual antigo, na sua versão primitiva, era em estilo gótico simplificado, talvez da época de D. Dinis (1279-1325). Em meados do século XVI, tinha uma capela-mor com abóbada nervurada, à qual se acedia por um arco ogival. Com uma única nave, o seu tecto era coberto por asnas de madeira. Acedia-se ao corpo da igreja por três portais também de ogiva, sendo o principal de maiores dimensões, sobrepujado pelo brasão da Ordem de Sant’ Iago da Espada [2] (cf. S/A, 1988: 11 e 12).
De acordo com diversas visitações santiaguistas consultadas, o templo estava orientado no sentido nascente-poente. Se observarmos, contudo, as ruínas ainda existentes no terreno, facilmente se verifica uma disposição diferente. Ao contrário do que acontece com a vizinha igreja da Misericórdia (da segunda metade do século XVI), que apresenta essa implantação, Santa Maria d’ Alva teria o pórtico principal virado a nordeste, o que faz com que uma das suas paredes mais longas (à qual se encostava um campanário com dois sinos, a que se subia por uma escada exterior) se virasse para sudeste[3]. Tendo em conta a planta de várias mesquitas andaluzes de pequena dimensão[4], é possível que a igreja cristã se tenha implantado no local de um anterior lugar de culto muçulmano. Esta hipótese é reforçada pela invocação de Santa Maria recebida pelo templo; afinal, todas ou quase todas as mesquitas cristianizadas foram colocadas sob a protecção da mãe de Jesus Cristo. Como é óbvio, estas suposições só poderão ser confirmadas (ou não) no decurso de escavações arqueológicas do espaço em questão, que se esperam breves.
Uma lenda antiga liga o hagiónimo “Santa Maria d’ Alva” à conquista de Aljezur ao domínio muçulmano. Emmanuel Correia, num artigo de 1985, afirma que o nome do orago “está intimamente relacionad[o] com a ocupação do castelo ao romper da aurora no dia 24 de Junho de 1242 ou 1246” (Correia, 1992: 14)[5], explicação que mantém em 1991, quando assevera – como “facto histórico” (sic) – que o título atribuído à Virgem não significa “branco ou brancura”, mas recorda “a ‘Estrela de Alva’ [...], o romper da alva, o alvorecer, quando o Castelo é tomado aos mouros, por D. Paio Peres Correia, Mestre da Ordem de Santiago” (Correia, 1997: 72). Fernando Calapez Corrêa segue a mesma linha explicativa (cf. Corrêa, 1995: 11) e, depois dele, outros autores a têm utilizado. Já Pedro Gomes Barbosa, cauteloso, num pequeno mas muito intessante livro, limita-se a discutir a datação da conquista (colocada, conforme os autores, em 1242, 1243, 1244, 1246 ou 1249) sem referir a lenda da padroeira de Aljezur (cf. Barbosa, 2000).
As lendas e as tradições construídas em torno de factos históricos devem ser lidas sempre com muito cuidado. Explicações construídas a posteriori não são relatos nem testemunhos, mas interpretações subjectivas – misturando realidade e ficção ou colocando num mesmo momento temporal acontecimentos ocorridos em períodos diferentes, por vezes muito distantes. Quem as lê ou as ouve tem obrigação de as submeter a um crivo crítico, tentando descobrir nesses palimpsestos pelo menos algumas linhas de leitura.
Na lenda da tomada do castelo de Aljezur – que envolve outros aspectos, menosprezados por agora[6] – não custa crer na consagração a Santa Maria de uma provável mesquita local[7]. Foi prática corrente em toda a reconquista cristã. Também não custa ver envolvidos na batalha ou escaramuça cavaleiros das ordens militares, nomeadamente espatários, pois é facto histórico que eles tiveram um papel decisivo no avanço do reino de Portugal para sul. Se o mestre santiaguista participou, em pessoa, na lide, não é possível provar. O seu aparecimento na lenda pode até ser uma introdução posterior, motivada pela entrada em 1297 das terras concelhias na jurisdição santiaguista (cf. Flores, 1986).
O único aspecto da narrativa que não tem merecido qualquer discussão ou atenção por parte dos historiógrafos e dos historiadores parece ser o título atribuído a Santa Maria e a sua explicação semântica. Talvez por se situar noutros domínios pouco valorizados pelos estudiosos da expansão territorial dos reinos cristãos para sul. De um lado, aceita-se o texto lendário como verdade indiscutível e, até, como “facto histórico”. Do outro, ignora-se este passo da lenda, porque tem a ver com a teologia, com a antropologia, com a sociologia das religiões ou com outros domínios do saber que não coincidem com os interesses de um investigador dedicado à história política, militar e/ou económica. A ausência de discussão não significa, contudo, que ela não seja necessária.
Emmanuel Correia – a quem os estudos da história local do concelho de Aljezur muito devem – refere, e com razão, que “o título de Senhora d’ Alva, não sendo único, é contudo pouco vulgar no nosso País” (e também “no mundo”), havendo notícia apenas de mais uma capela com essa invocação na freguesia de Poiares do concelho de Freixo de Espada à Cinta (Bragança), relacionada com uma antiga “Vila de Alva”, alegadamente “extinta por D. Sancho II” (Correia, 1992: 14; Correia, 1997: 71). Existe ainda um título gémeo (?) atribuído a uma igreja do século XII edificada no sul de França (Aveyron) – “Notre-Dame de l’ Aube” –, embora desconheçamos a data em que lhe foi dado esse nome e como seria na origem, dado que nessa região, até há poucas décadas, a língua falada não era o francês mas o occitano[8].
Os autores que têm referido a lenda da conquista de Aljezur e da atribuição a Nossa Senhora do título “d’ Alva” costumam dar como provado que o nome, aí tornado próprio, é uma tradução livre de “Stella Matutina”, um dos epítetos dados a Maria nas célebres “Litanias da Virgem”. Afirmam também que essa escolha terá sido motivada pelo período do dia em que se deu a conquista (“o romper da aurora”), momento em que “no firmamento ainda brilhava a estrela da manhã” (Correia, 1992: 14). Como é óbvio, não é possível provar a historicidade desse facto. Se não existe acordo entre os historiadores quanto à data (ano, mês e dia) em que ocorreu a tomada, é completamente impossível sabermos se o acontecimento se deu de manhã, à tarde ou durante a noite... Também nos parece um pouco estranho que, entre tantas e tantas igrejas ou capelas dedicadas a Nossa Senhora, só a de Aljezur tenha sido privilegiada com uma tradução tão livre (e tão culta....) do epíteto “Stella Matutina”, sobretudo quando existem por todo o país várias “Senhoras da Estrela” (que ainda assim podem não ter qualquer relação com a metáfora-astro da ladainha). A juntar a estas constatações e/ou perplexidades, temos dois factos (esses, sim, históricos) que parecem contrariar a interpretação corrente do nome “Santa Maria d’ Alva”:
Explicar o título atribuído a Nossa Senhora em Aljezur como uma referência à “Stella Matutina” das “Litanias” ou como lembrança da “claridade matinal” serão pois interpretações posteriores, de origem culta e/ou clerical (nascidas talvez de sermões proferidos nas festas principais da vila), nunca anteriores ao século XV. (Não deixamos, no entanto, de registar que foi a explicação aqui discutida aquela que, com o avançar dos séculos, permaneceu tanto na tradição oral quanto em vestígios materiais eruditos. Lembremos, por exemplo, alguns elementos decorativos da igreja nova da Senhora d’ Alva, nomeadamente a enorme estrela esculpida no seu tecto, ao centro do cruzeiro, sobre o transepto.)
Com estes dados, ficamos com duas hipóteses sobre a mesa:
A invocação “Santa Maria d’ Alva” – nos documentos que consultámos para este trabalho – parece surgir, de facto, apenas na segunda metade do século XV, no texto de uma visitação dos representantes da Ordem de Santiago a Aljezur em 1482 (cf. Antunes, 1987: 64). Embora possam existir referências mais antigas (em documentos desaparecidos ou que não tivemos oportunidade de localizar ou de consultar), não deixamos de registar que nesse mesmo texto é transcrita uma “carta de doaçom outorgada per pero sanchez mestre da ordem de samtiago e garcia piriz comendador mor” ao bispo de Silves, pela qual lhe davam 50 libras portuguesas para a construção da sua sé catedral, as quais receberia “per os finitos rrendas e direitos da [...] IgreJa de santa maria d’ alJazur” (Antunes, 1987: 63). Esse texto – escrito “em alquaçer vimte e dous dias do mes de março da era de mil e trezentos e ssassemta e dous anos” – mostra-nos que, em datas mais recuadas (século XIV), o título da Virgem nem sempre era mencionado[10]. Não pode contudo haver certezas no que respeita às razões desse facto, existindo pelo menos duas explicações, ambas aceitáveis:
Apesar das dúvidas, inclinamo-nos a aceitar como mais provável a segunda hipótese. Tendo em conta a forte tradição que situa a designação “Santa Maria d’ Alva” num período anterior ao século XV, consideramos muito provável a utilização desse nome em épocas mais recuadas, embora com um significado diferente daquele que a lenda lhe atribui.
Se olharmos com atenção as outras duas ocorrências registadas desse hagiónimo, certamente repararemos que uma delas é fruto do topónimo atribuído ao local onde se situa (“Vila de Alva”) (cf. Correia, 1992: 14). Se tivermos em conta que do exemplo francês nada sabemos (nomeadamente o vocábulo original e a cronologia da atribuição), vemo-nos obrigados a suspeitar de uma situação parecida em Aljezur: “Alva” (ou um vocábulo foneticamente semelhante) terá sido o nome do monte (ou da povoação) onde, depois, se ergueu um local de culto ou do(s) curso(s) de água que passava(m) (e passa(m)) na sua base. Se consultarmos um rol toponímico do território português, constataremos que todos os “Alvas” e seus derivados ou associados nomeiam um meio aquático (fonte, ribeira ou rio), elevações ou povoações situadas junto destes.
Que significa então “Alva”? – perguntarão. As hipóteses de explicação deste topónimo, hoje transformado em título de santa católica – tornando essa santa numa divindade tópica, inseparável do local a que está ligada –, são várias e provenientes de diversas línguas que já se falaram no território hoje português.
Há quem se socorra de radicais indo-europeus – base da maior parte das línguas faladas na Europa, com origem no II milénio antes de Cristo – com o significado de “altura” (“alb-” ou “alp-”), de “corrente de água” (“olv-”) ou de “fonte” (“av-”) (cf. Amaral & Amaral, 2000: 201, 206, 246 e 249; Machado, 1993: 72). Qualquer deles serve na perfeição: a igreja “velha” de Aljezur foi construída no alto de um monte, tinha perto uma fonte (a “Fonte das Mentiras”[11]) e aos pés dessa elevação e das que a rodeiam corriam pelo menos três ribeiras[12].
Outros, como José Pedro Machado, preferem o latim, indicando como étimos originais “alvea” (feminino de “alveus”), com o significado de “cavidade” ou “leito do rio”, apontando ainda o plural de “alveum”, “cortiço de abelhas” (cf. Machado, 1993: 113).
Existe ainda a hipótese árabe, aventada por David Lopes para “Alvor” (cit. in Amaral & Amaral, 2000: 202): “Alva” pode ter origem em “alber”, que quer dizer “poço”.
Tirando “alveum”/”alvea” (que me parece pouco provável, a não ser que surjam provas de intensa dedicação à apicultura nos tempos anteriores à reconquista), todas as outras raízes etimológicas têm a ver com água nascente/corrente ou com montes. Qualquer delas poderá explicar um topónimo tornado, posteriormente, invocação mariana[13].
Apesar da preposição “de” existente no título, que parece inviabilizar a colocação de “Alva” na classe dos adjectivos, há ainda outra hipótese explicativa que não queremos pôr de parte. Quando não existem certezas (e nos estudos toponímicos as dúvidas são sempre mais frequentes do que as certezas...), temos obrigação de manifestar todas as possibilidades explicativas.
José Pedro Machado afirma que só enquanto adjectivo “alva” pode ser o feminino de “alvo”, isto é, um sinónimo de “branca” (pelo latim “alba”, feminino de “alvus”) (cf. Machado, 1993: 71 e 113). Será que “Nossa Senhora de Alva” foi no início apenas uma “Senhora-a-Branca”, como a existente em Braga? A hipótese, embora tentadora, esbarra com a inexistência de outras “Senhoras d’ Alva” no território português[14] (a não ser a supracitada, transmontana, cujo título quer dizer outra coisa) e, assim, somos obrigados a concordar que o prato da balança pesa para o lado da opinião de um estudioso local: “Alva” nada terá a ver com “branco” ou “brancura” (cf. Correia, 1997: 72).
Excluída a hipótese cristã, só entre as divindades pagãs encontramos um teónimo que, na sua versão latina, corresponde à “Alva” de Maria. Tem até a curiosa peculiaridade de, nos seus territórios originais (o Próximo Oriente) ter sido identificada com o matinal planeta Vénus, a tão falada “Estrela da Manhã” ou “Stella Matutina” (cf. Espírito Santo, 1988: 207).
O historiador Paulo Pereira afirma (e com razão): “[n]ão poucas vezes [os santos católicos] tornam-se em verdadeiros génios do lugar em substituição [de] antigas divindades pagãs – que já o tinham sido no passado” (Pereira, 2005: 102). Esta é, também, a opinião normalmente assumida pela generalidade dos antropólogos, dos etnólogos e de outros estudiosos da história das religiões. Entre esses santos, têm especial relevo muitas invocações da Virgem Maria que resultaram da cristianização de cultos antigos, sobretudo de origem oriental (Astarté/Ishtar, por exemplo) (cf. Pereira, 2005: 102), entretanto confundidos com outros egípcios, cartagineses ou greco-romanos. De acordo com o autor de Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa, a substituição é regida por três factores, exteriores à teologia: “a identidade do espaço; um santo pode substituir um deus antigo desde que o local seja o mesmo. [...] por confusões linguísticas; [...] pela sobreposição de calendários festivos” (Espírito Santo, 1988 cit. in Pereira, 2005: 102).
Como escrevemos no penúltimo parágrafo, existe no panteão do paganismo oriental uma divindade a quem era atribuído o adjectivo “Alba” e que estava associada a Vénus-Estrela da Manhã: a deusa Astarté, representada com um crescente lunar e com uma pomba branca, com santuários povoados por pombas (nomeadamente o principal, em Hierápolis) e por isso cognominada “Alba Santa Columba” (Espírito Santo, 1988: 207 e 208). Conhecida por múltiplos nomes[15], conforme as regiões para onde o seu culto foi transplantado, foi assimilada por várias divindades posteriores. Era a deusa-mãe dos fenícios e, nos primeiros séculos da nossa era, na mesma região de onde partira a sua devoção e se espalhara por todo o Mediterrâneo (o Próximo Oriente), foi cristianizada e substituída pela figura da Virgem Maria.
Só faria sentido considerar a hipótese da existência ancestral de um culto fenício em Aljezur, do qual Santa Maria teria herdado o título, caso os originários de Tiro tivessem andado por estas regiões do sudoeste peninsular. Ora, não restam dúvidas desse facto. Qualquer arqueólogo o pode confirmar. Embora tenham existido contactos entre esse povo semita e a Península Ibérica ainda na Idade do Bronze Final, o estabelecimento de colónias/feitorias deu-se sobretudo na 1ª Idade do Ferro, período em que introduziram por aqui inovações tecnológicas, como a metalurgia do ferro e a roda do oleiro, e agrícolas, como a produção do vinho e do azeite. “No plano social” – afirma Carlos Fabião – “foram os responsáveis pelas primeiras formas de escrita [...] [e] no âmbito religioso, trouxeram à Península Ibérica novos ritos, novos deuses e novas formas de lhes prestar culto” (Fabião, 2006: 146). Entre esses cultos, certamente os seus deuses Bel, Ishtar e Adon. Com ligação directa ou indirecta ao famoso “reino de Tartessos”, descobriram-se marcas indiscutíveis da sua presença em locais tão próximos de Aljezur quanto Silves, Sines, Almograve, Bensafrim ou Lagos – e ainda em Almada, Alcácer do Sal, Sesimbra, Santarém e noutros lugares.
Terá existido um local de culto a Astarté no local onde agora se ergue Aljezur? Não sabemos. Será “Nossa Senhora d’ Alva” uma sua herdeira ou, pelo menos, herdeira de parte do seu título de “Alba Santa Columba”? Não temos certezas. Terá existido num dos cerros da vila (“Mosqueiro”, “Castelo” ou “Forte”) um estabelecimento fenício, na 1ª Idade do Ferro? É possível, uma vez que a cronologia da ocupação humana dessa zona vai do final da Idade do Bronze até ao período romano (cf. Garcia, 2006: 121), fatia de tempo coincidente com a da presença dos navegadores de Tiro por essas partes. Coincidência ou não, segundo Carlos Fabião, os homens originários do actual Líbano gostavam de territórios como os de Aljezur para se estabelecerem:
“Alguns pormenores interessantes que se observam na implantação destas colónias [fenícias] relacionam-se, em primeiro lugar, com a sua localização, junto ao estuário dos rios e sempre em pequenas ilhas ou promontórios. Tal localização denota as preocupações de, a um tempo, escolher uma posição francamente litoral, indispensável para as navegações mediterrânicas, e garantir, pela proximidade do rio, um bom ancoradouro e uma via de acesso ao interior.” (Fabião, 2006: 146).
Não podemos, entretanto, esquecer que existem topónimos muito sugestivos por todo o concelho. Poderemos ignorar, por exemplo, uma “Baía dos Tiros”, uma “Fonte das Mentiras” ou o facto de um dos estabelecimentos fenícios do sul de Espanha se ter chamado “Sexi” (cf. Fabião, 2006: 130), quando a sua cidade mais importante era Tiro e no norte do território municipal de Aljezur existe um rio “Seixe” e uma vila chamada “Odesseixe”[16]? Deveremos menosprezar a afirmação de H. N. Savory de que Aljezur teria sido “um dos portos de escala dos primitivos navegadores almeirenses, a caminho do Tejo e mais para o norte” (Savory, 1985: 122 in Espírito Santo, 1988: 239)? Será lícito desconhecermos a hipótese lançada por Moisés Espírito Santo de que “Aljezur” herdou o seu nome de uma ilha situada a um quilómetro de Sídon, na Fenícia, “El-djezire” (hoje “Saida”)? Mais do que dar respostas, é importante fazer perguntas – que serão respondidas por arqueólogos e historiadores sérios, no decurso das suas pesquisas e investigações.
[1] Infelizmente, talvez por falta de fundos, a igreja parece ter ficado inacabada. Falta-lhe a torre norte e, talvez, mais alguns lanços do escadório.
[2]Alguns vestígios escultóricos deste edifício podem ser observados no Museu Municipal de Aljezur.
[3]Conferir também o “Levantamento Aerofotogramétrico” de Aljezur realizado em Julho de 1977.
[4]Nessa parede virada a sudeste implantar-se-iam – como acontece no ribat da Arrifana (cf. Gomes & Gomes, 2005) – a qibla (parede sagrada ou muro de orações) e o respectivo mirhab (nicho sagrado), orientados para Meca.
[5]“Quando no firmamento ainda brilhava a estrela da manhã, os cristãos conduzidos pelos Cavaleiros da Ordem Militar de Santiago dão graças pela expansão de Fé e olhando o Céu agradecem a Maria; certamente, nesse momento nasceu a invocação de ‘Senhora d’ Alva’.”
[6] Contamos dedicar à lenda da conquista do castelo de Aljezur um estudo futuro.
[7] A não ser que já existisse nessa localidade (como sucedia, por exemplo, em Faro ou nas proximidades de Sagres) algum lugar de culto de rito moçárabe, utilizado pelos cristãos locais, “convertido” às normas da reforma gregoriana.
[8]“Aube” pode ser apenas a interpretação fonética de outra palavra occitana que não queira dizer “madrugada”, mas tenha outro significado. Pode ser ainda um título atribuído em data posterior à edificação do templo.
[9]Segundo o mesmo autor, mesmo o nome comum “alvor” só aparece no século XIV na língua portuguesa (cf. Machado, 1995a: 220).
[10] Nos documentos do século XIII, emanados das chancelarias de Afonso X de Castela e dos reis de Portugal D. Afonso III e D. Dinis, que tivemos oportunidade de consultar, a igreja de Aljezur ou não é mencionada ou, quando é referida, a sua titular não é nomeada (cf. Barbosa, 2000: 20; Flores, 1986; ou Corrêa, 1992).
[11]Este topónimo é também muito interessante e, talvez, muito antigo. Ocupar-nos-emos dele num próximo estudo.
[12]Além disso, o território do actual concelho de Aljezur já era habitado na época em que se terá falado a “língua” indo-europeia.
[13] São bastantes os casos em território português de topónimos tornados hagiónimos, sobretudo relacionados com Maria: “Senhora da Ortiga” (Ourém), “Santa Maria da Devesa” (Castelo de Vide), “Santa Maria de Faro”, “Senhora da Alagada” (Vila Velha de Ródão), “Senhora das Brotas” (Coruche), “Senhora do Castelo” (Monsanto da Beira), “Senhora de Fátima” (Ourém), etc..
[14] Em Portugal a brancura da Virgem Maria é traduzida pelo adjectivo corrente “branca” e nunca pelo erudito “alva”.
[15]Segundo Moisés Espírito Santo, Ishtar (princípio feminino do deus Bel ou Baal) – a Deusa Mãe – assumiu vários nomes/identidades, conforme os povos que a cultuaram e/ou designaram (havendo casos em que vários títulos eram usados em simultâneo): “Ishtar” (babilónios), “Iasura” (sírios), “Atargatis”, “Astarté” (cananeus e fenícios), “Tanit” ou “Celeste”(cartagineses), “Moira”, “Alba Santa Columba” (romanos) , “Dea Siria” (romanos), “Salambô” (romanos, em Sevilha), etc.. Os assírios davam-lhe o título de “Estrela da Manhã” e na Mesopotâmia designava o planeta Vénus. Foi identificada com a Lua (Selene) ou, ainda, com a egípcia Isis. Acabou por ser assimilada por várias divindades greco-romanas, como Hera, Juno e Afrodite/Vénus. (cf. Espírito Santo, 1988: 207 – 211 e A Deusa Síria, de Luciano, in Espírito Santo, 1993, bem como as vastas referências citadas por este).
[16] Apesar da ortografia de “Odesseixe” consagrada oficialmente, optámos por utilizar a que nos parece mais correcta.
Pontes, diques, ilhas e rios em "Aljezur"
2. Pontes, diques, ilhas e rios em “Aljezur”
Poderá “Alva” ou outra palavra com um som semelhante ter sido o nome primitivo de Aljezur, de um dos seus montes ou de uma das suas ribeiras? Não sabemos. É possível. A hipótese é sedutora. Mas face à inexistência de documentos escritos (ou orais) nesse sentido, devemos ser prudentes e aceitar, resignados, o carácter misterioso/enigmático desse assunto. Curiosamente, será mais fácil provar, no futuro, o culto a Astarté ou o estabelecimento fenício. O processo pode ocorrer quando, um dia, haja uma eventual e/ou provável descoberta de vestígios arqueológicos.
No domínio verbal, as provas são sempre mais difíceis e, por vezes, impossíveis. A toponímia (e as suas subdivisões – oronímia, hidronímia, hagionímia, etnonímia, etc.) pertence ao domínio da oralidade. As traduções escritas dos topónimos são sempre insatisfatórias, porque aproximadas (sobretudo quando o escriba não conhece a língua original do vocábulo). Chegam a produzir confusões insanáveis, reproduzidas durante séculos e séculos. Talvez por isto Marcel Proust, num dos sete volumes do seu romance À la Recherche du Temps Perdu, afirma que “a toponímia não é uma ciência exacta”. Resta-nos uma convicção: num campo de incertezas, como este, é muito importante apresentar todas as explicações do nome de um lugar, embora submetendo-as a um cauteloso comentário crítico (sempre discutível).
Se “Alva” é hoje apenas o título da Virgem Maria num concelho do barlavento algarvio, “Aljezur” é simultaneamente o nome de uma vila, de um concelho e de uma ribeira. Pondo de lado a segunda acepção (com mero carácter administrativo), é significativo que assim seja. A mesma palavra designa duas realidades, pelos vistos inseparáveis. Não é caso único; há imensos exemplos em Portugal de topónimos duplos – e, com frequência, não sabemos bem que nome deu origem ao outro, se o da povoação, se o do rio ou se o do monte[1].
Também no poente algarvio não temos certezas. Logicamente, os rios e os montes são muito mais antigos do que a ocupação humana instalada aí ou nas proximidades. Na maior parte dos casos, quando nome de um curso de água ou de uma elevação coincide com o de uma povoação vizinha, esta recebeu-o daqueles. Os hidrónimos e os orónimos são exemplos de grande longevidade linguística; normalmente subsistem ao longo de muitos séculos (ou até de alguns milénios) sem grandes alterações fonéticas. Devemos assim perguntar: nesta parte do Algarve, quem nasceu primeiro? Aljezur-nome-de-localidade ou Aljezur-nome-de-ribeira?
Resultado de cursos de água diferentes, que só na “Várzea” se unem para desaguarem no Oceano Atlântico, junto do que no século XVII se chamava “porto da Aberta” (Tavares, 2005: 107), o prior da vila, em 1758, apresenta a seguinte descrição do “rio”: “chamado Ribeira de Aljezur se compõe de águas nativas que vêm da Foia de Monchique e do sítio das Alfambras e de um chamado ribeiro de Val da Nora e de outro chamado Cabeça Calva” (Mendes, 1990: 39). Em 1517, um documento refere apenas a “ribeira desta vila” (S/A, 1996: 68) que, no século XV, era conhecida por “ribeira pública” (Tavares, 2005: 105). As duas designações não são, no entanto, topónimos, mas expressões descritivas. Há ainda nesses séculos outros nomes[2], à primeira vista hidrónimos, com um carácter contudo semelhante. Ficamos assim sem saber se “Aljezur” enquanto nome de ribeira é recente ou não.
Ribeiro ou vila, debrucemo-nos então sobre a palavra que lhes deu o nome actual. Pode ser que o seu significado nos dê algumas certezas – ou, pelo menos, hipóteses dotadas de alguma consistência. Comecemos por apresentar as várias hipóteses explicativas que têm sido apresentadas por diversos autores. “Aljezur” não tem escapado ao olhar dos curiosos e dos estudiosos, pelo menos desde a segunda metade do século XIX.
A mais antiga explicação que conhecemos deve-se a Pinho Leal, autor da célebre corografia intitulada Portugal Antigo e Moderno. Na sua opinião, a nossa vila tem como nome “a palavra arabe algezur, que significa arcos, arcada ou arcaria”, termo proveniente de “gesron, o arco”, significando assim “povoação da arcada” (Pinho Leal, 1873: 134). No mesmo sentido foi, em 1903, o especialista alemão C. F. Seybold que, num artigo publicado na revista O Arqueólogo Português, manifestou a sua suposição de que o topónimo tem o sentido de “as pontes ou diques”[3] – em árabe aldjusûr (Seybold, 1903 in Lopes, 1968: 200). Esta teoria – na qual temos um sinónimo de “al-kantarâ” (a ponte) e de “as-sudd” (o açude / a represa) –, obteve recentemente a adesão de Maria José Ferro Tavares (cf. Tavares, 2005: 79).
No mesmo ano e no mesmo volume da revista supracitada, o arabista David Lopes contestou, com soma de pormenores, a teoria do professor da Universidade de Tubinga, na Alemanha, recorrendo a um seu trabalho anterior, onde defendera para étimo de “Aljezur” “a palavra árabe [...] ALJEZIRA, que está em Leziria, Algeciras e Alcira (Espanha) e Argel (plural, na Argélia), e significa ‘ilha’ ou ‘peninsula’, qualquer que seja a sua extensão” (Lopes, 1903 in Lopes, 1968: 61). Como reforço da sua tese, cita uma passagem do tombo das terras do concelho (1694) onde é referido “um lizeirão de terra, sito no combro, ou esteiro, onde antigamente era o desembarcadouro” (Lopes, 1903 in Lopes, 1968: 62 – 63). José Pedro Machado diverge ligeiramente daquele a quem chama o seu “mestre”, propondo o significado “ilhas”, pelo árabe “al-juzur”, plural “(ao lado de al-jazair) de al-jazira” (Machado, 1993: 96); a sua opinião foi desenvolvida num dos últimos artigos que escreveu antes de falecer, publicado no primeiro número da revista Al-Rihana (cf. Machado, 2005). Embora sem esclarecer em que língua se baseia, se o cananita/fenício se o árabe[4], Moisés Espírito Santo concorda com esta hipótese explicativa, lançando porém a ideia de que o topónimo se deverá à importação do nome de uma ilha situada junto de uma cidade fenícia:
“Aljezur recebe o seu nome, com o mínimo de modificações fonéticas, de El-djezire (hoje Saida), ilha situada a um quilómetro da cidade de Sídon, [...] e significa ‘ilha’, ‘planície fluvial’, ‘península’; a tradição situa em Aljezur um ‘antigo ancoradouro’. Aljeciras (antigamente Aljezira), povoação pertencente a Cádis, a cidade fenícia do sul de Espanha, tem a mesma origem etimológica.” (Espírito Santo, 1988: 239).
José Domingos Garcia Domingues mantém uma posição cautelosa, sem dogmas, no artigo que publicou sobre este e outros assuntos. Começando por referir que o nome “Aljezur” é um termo que não se encontra nos textos árabes, acaba por considerar pouco convincentes as conclusões de Seybold e de David Lopes (logo, implicitamente, dos seus seguidores). Lembra então a proposta de Pedro Cunha Serra, que afirma estar o nome da vila baseado no antropónimo “Al-Jazûr”, a qual tem contra si o facto de, até hoje, nunca ter aparecido um documento que fale de tal personalidade. Equidistante, considera porém que nenhuma das hipóteses deve ser posta de parte (cf. Domingues, 1988).
Sempre no domínio de uma origem árabe – só quebrado por Espírito Santo – A. H. Oliveira Marques (no segundo volume da Nova História de Portugal, que dirigiu com Joel Serrão), ao listar as tribos árabes provenientes do Iémen cujos soldados se recusaram a abandonar a Península Ibérica na segunda metade do século VIII, aponta entre elas uma conhecida pelo nome “Yahsub”. Na sua opinião, este etnónimo terá possivelmente originado “Aljezur” (cf. Oliveira Marques, 1993: 138 e 139)[5].
Para além destas teorias, há ainda uma assinada por um tal Márius Labrator que, embora seja mencionada no quadro em que resumimos as hipóteses aqui apresentadas e na bibliografia, não vale a pena expor, por falta de fundamentos linguísticos, históricos e metodológicos.
Temos assim várias soluções que nos permitem deslindar o significado de “Aljezur”, todas aceitáveis do ponto de vista fonético, numa evolução a partir do árabe[6] (ver Quadro III). Contudo, mais uma vez a escolha é quase impossível. Se a configuração do terreno e os dados históricos que se conhecem sobre ele parecem apontar para uma solução relacionada com a descrição do local onde hoje se implantam a vila e os seus arredores, através de um nome comum árabe que se tornou próprio, não podemos nem devemos excluir como prováveis as outras hipóteses – entre elas uma que se afigura bastante sedutora: a que aponta para a existência de pontes e/ou represas na actual várzea que terão originado o topónimo. A dupla significação poderá ter sido, até, a razão da escolha pelos colonizadores muçulmanos. Enquanto “al-kantarâ” e “as-sudd” parecem ter um significado materialmente restrito, a solução proposta por Seybold é abrangente e pode incluir no seu sentido tanto as duas-três pontes, que na Idade Média ultrapassavam a(s) ribeira(s) que rodeia(m) o morro da vila, quanto o “açude da várzea”, que surge nas visitações da Ordem de Sant’ Iago de inícios do século XVI (cf. S/A, 1996) e até em datas do século anterior (cf. Antunes, 1987: 64).
É certo que Aljezur não é citada na documentação árabe e não temos provas de que as pontes e o açude medievais já existissem entre o século VIII e meados do século XIII, época em que nesta terra se falou a língua árabe, na sua forma clássica ou, mais provavelmente, em formas dialectais. Sabemos que os muçulmanos viveram nesta região, mas sabemos pouco (ou nada) sobre o urbanismo da vila e sobre a arquitectura das construções que aí existiam. Por esta razão, não nos repugna que a palavra “Aljezur” seja, em alternativa, o vestígio linguístico de uma tribo iemenita ou, até, a lembrança do nome dalgum povoador importante, embora até agora não referenciado nos documentos.
Ninguém é obrigado a escolher – nem nós escolhemos. Qualquer das hipóteses se pode aceitar, mas nenhuma se pôde provar até à presente data.
Do mesmo modo não excluímos a possibilidade de uma “importação” a partir da Fenícia. Já vimos que não é improvável termos tido naturais do Próximo Oriente nessas partes, quando analisámos o hagiónimo-topónimo “Alva”. Além disso, são muitos os exemplos – em todas as épocas e por todo o mundo – de topónimos reproduzidos em locais diferentes, como resultado de movimentos migratórios.
Não nos esqueçamos nunca, porém, de que “Aljezur” é simultaneamente nome de vila e nome de ribeira – e nada há a provar que na época antiga não fosse já assim. E, se em “Alva” acabámos por encontrar vestígios de étimos bastante antigos, nomeadamente indo-europeus, que podem explicar o sentido da palavra, também no caso agora analisado há radicais que parecem encaixar na fonética do vocábulo em questão.
Partindo do árabe, a generalidade dos autores tem dividido o trissílabo “Aljezur” em duas partes, identificando um nome precedido pelo respectivo determinante. Nada impede no entanto que o topónimo não seja uma palavra composta pela junção de dois nomes.
O radical indo-europeu “ols-” – que significa “corrente de água” – terá dado origem a várias designações de ribeiros e de lugares, entre elas “Alge”[7] (cf. Amaral & Amaral, 2000: 198). Por sua vez, “Sor” – nome de vários rios em Portugal e na restante Península Ibérica – terá nascido de um radical idêntico, “sor-”, com o mesmo significado de “ols-” (cf. Amaral & Amaral, 2000: 234). Há ainda “Sul” que, na mitologia celta, designava uma divindade aquática, localizada em Bath, na Inglaterra, que terá sido importado para uma vila e rio da Beira (antigamente “Sur”), em terras do actual concelho de São Pedro do Sul (cf. Amaral & Amaral, 2000: 168).
Se em “Alcobaça” se fala da união do nome de dois rios – “Alcoa” e “Baça” –, não será provável a junção, em “Aljezur”, de palavras derivadas de “ols-” e de “sor-”? Juntam-se na “Várzea” várias ribeiras que deveriam ter nomes distintos, não sendo impossível a existência de sinonímia… Tendo em conta alguns vestígios materiais celtas surgidos na zona do castelo, não será provável que a um nome com base indo-europeia, formado a partir de “ols-”, se tenha acrescentado em época posterior o teónimo de uma divindade aquática?
Nada decidimos – porque não é essa a nossa intenção. Dever nosso é, contudo, apresentar ao leitor todas as hipóteses explicativas, desde que tenham bases de sustentação linguísticas, geográficas e/ou históricas mínimas, oferecendo-lhe materiais diversos que possam desencadear em si um raciocínio fundamentado e independente.
É por respeito a este princípio metodológico que não devemos esconder também que a deusa Astarté – de quem, possivelmente, a Senhora d’ Alva teria herdado o nome – se chamou “Iasura” (“a criadora”) ou “d yasur” (“a que cria”) (cf. Espírito Santo, 1993: 57), que Tiro, na Fenícia, também se chamou “Sor”, “Açor”, “Sur” e “Shor” (cf. Espírito Santo, 1988: 268), enquanto “alah” (e outras palavras foneticamente semelhantes) nas línguas semitas antigas, nomeadamente no cananita e no hebraico, significava “subida” ou “encosta” (cf. Espírito Santo, 1988: 350). Ao arrepio da própria opinião do sociólogo e antropólogo Moisés Espírito Santo (cf. Espírito Santo, 1988: 239), não excluímos da mesa das hipóteses as resultantes destas combinações, tanto mais quanto pensamos na afirmação do arqueólogo e historiador Carlos Fabião de que os fenícios tinham especial preocupação em reproduzir nas suas instalações quanto podiam do urbanismo e até da toponímia da sua terra natal (cf. Fabião, 2006: 146).
[1] Águeda, Ceira, Odemira, Nisa, Coina, Alvor, Caia, Seda, Sertã, Vizela, etc., etc.
[2] “Ribeira pública”, “ribeira mestra”, “ribeira corredoura” ou “ribeira do Esteiro” (Tavares, 2005: 107).
[3]O original, em francês, afirma: “Aljezur tout près de [Arrifana] au N.E., qui je suppose signifie ‘les ponts ou digues’, […] aldjusûr”.
[4] Quer o cananita-fenício, quer o árabe são línguas semitas. A primeira influenciou no entanto a segunda.
[5]“Uma segunda colonização de militares verificou-se após o levantamento berbere de 740-742. Os contingentes árabes – sírios e egípcios – chamados para ajudar a esmagar a revolta, recusaram-se a deixar a Península. Talvez um milhar de egípcios, ignora-se com que percentagem de familiares, recebeu terras no Baixo Alentejo e no Algarve. O grosso desses árabes provinha das tribos iemenitas de Yahsub e Ma’afir, cujos nomes podem ter persistido nas toponímias alentejana e estremenha. (Respectivamente em: Aljezur (distrito de Faro) e Almagrave(s) (concelho de Odemira, distrito de Beja; concelho de Sintra, distrito de Lisboa). – nota de rodapé)” (Oliveira Marques, 1993: 138) // “Das tribos árabes estabelecidas em território depois português, o grosso veio do Iémen ou tinha raízes iemenitas. Receberam terra em todos os distritos acima indicados, acaso com preponderância para os de Lisboa, Évora, Beja e Faro. / Indiquem-se, entre outras possíveis, as de Al-Hamdan (Alfundão), Kalb (Alcava), Al-Hazray (Alfeizerão), ‘Ans (Alfange), Madhiy (Almadafe), Haraz (Alfaraz ou Alfarazes), Mahra (Mafra), Qayn (Alcains e Alcainça), Murra (Morraz) e talvez Gassan (Algaça), além das já mencionadas Yahsub (Aljezur?) e Ma’afir (Almagrave ou Almagraves). Falam também os cronistas de fixação de árabes iemenitas no ocidente do Andaluz, nomeadamente em Silves e em Beja.” (Oliveira Marques, 1993: 139).
[6] Excepto a proposta por Moisés Espírito Santo, fenícia, mas coincidente com uma das árabes.
[7]
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