Autor: Francisco Sande Lemos
jueves, 18 de enero de 2007
Sección: De los pueblos de Celtiberia
Información publicada por: bracarense
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O Balneário Pré-Romano de Braga
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O nome dos Bracari surge, pela primeira vez na História, no século II antes de Cristo, na sequência da primeira expedição militar romana ao Noroeste da Península. Em 137 a.C., as legiões comandadas por Décimo Juno Bruto, o general que tinha derrotado os Lusitanos, atravessam, sucessivamente, os rios Mondego, Douro, Ave, Cávado até ao Lima. No regresso travam uma dura batalha contra os Bracari, que teriam sido vencidos. Todavia o exército romano não se estabelece na região, mas prossegue para sul, voltando à Lusitania. Os escritores latinos referem novas incursões romanas ao Noroeste, incluindo uma sob o comando de Júlio César. No entanto, a Callaecia, nome pelo qual os romanos designavam a região, apenas foi definitivamente integrada no Domínio Romano, em finais do século I antes de Cristo, após as campanhas de Augusto, o futuro primeiro imperador.
Os Bracari seriam o mais importante, dos numerosos povos, que habitavam o território hoje correspondente ao Noroeste de Portugal e à Galiza. Deste modo, uma das três cidades fundadas por Augusto, cerca de 18-16 a. C, tem o título de Bracara Augusta. Estes povos, embora autónomos, partilhavam características comuns, habitando cumes fortificados, cujas ruínas se conservaram.
A Arqueologia escolheu a expressão Cultura Castreja para designar a plataforma comum a todos estes povos, ainda que reconheça a existência de profundas diferenças entre os castros da Galiza interior e os do Entre Douro e Minho. Aliás é nas bacias hidrográficas dos rios Sousa, Ave e Cávado que se conservam os mais extensos e imponentes castros, entre os quais destacamos o Castro de Lanhoso, a Citânia de Briteiros, o Monte das Eiras, a Cividade de Bagunte, a Citânia de S. Julião, o Castro de S. Lourenço. Para além disso também é neste espaço que se registam de forma mais marcante as características da denominada Cultura Castreja: os povoados fortificados, uma estrutura social idêntica, uma mesma antroponímia, deuses comuns, as estátuas de guerreiros, as falcatas, a ourivesaria, a cerâmica micácia, por vezes decorada com abundantes motivos geométricos, os adornos em bronze (as fíbulas e os alfinetes de cabelo). Da arquitectura dos povoados destacam-se as evidências de um proto-urbanismo, os conjuntos residenciais que agregavam a famílias, a casa onde se reuniam os dirigentes das principais linhagens e os balneários, situados na base dos castros. A primeira referência a estas últimas construções deve-se a Estrabão, um geógrafo grego que viveu na transição da Era Cristã. Segundo este autor os povos do norte da Península Ibérica tinham por costume tomar banhos de sauna e de água fria. A função das estruturas exumadas continuou, todavia, a ser matéria das mais diversas especulações até à descoberta dos monumentos com forno, em Briteiros, em Sanfins e noutros povoados do Noroeste Peninsular. Numa primeira fase foram interpretadas como crematórios, como monumentos funerários, pelo menos até à década de 80 do século XX. Actualmente, e tendo em conta as referências de Estrabão, bem como as novas descobertas, como por exemplo a do balneário pré-romano de Tongóbriga, considera-se que seriam balneários segundo um modelo tripartido: sala de sauna, aquecida por uma câmara com forno adjacente; uma sala intermédia de transição, com bancos laterais; um pátio destinada ao banho frio. No forno eram colocadas pedras aquecidas em lume vivo, pedras ou seixos sobre as quais se vertia água, a fim de induzir os vapores da sauna. Entre o compartimento de sauna e a sala intermédia erguia-se uma pedra, talhada num único bloco, com uma pequena passagem semicircular de reduzida dimensão, de forma a evitar a fuga de calor, mas suficiente para permitir a passagem de uma pessoa. Estes monólitos, podem ser mais ou menos decorados. A cobertura dos balneários seria em pedra, com lajes rectangulares, assentes nas paredes laterais e numa trave de madeira, de modo a formar um telhado de duas águas, conforme se observa nos monumentos deste tipo descobertos na Citânia de Briteiros e em Santa Maria de Galegos.
No Norte de Portugal o número de balneários, descobertos até ao momento, é restrito. Evidencia-se uma maior concentração no Vale do Ave onde se registam cinco, a saber, de montante para jusante: um no Alto da Quintães (Póvoa de Lanhoso); dois em Briteiros; um em Sabroso(Guimarães); um no Castro do Monte da Eiras (Vila Nova de Famalicão). No vale do Cávado já foram reconhecidas três estruturas deste tipo: em Braga, em Santa Maria de Galegos (Barcelos) e no Monte da Saia (Barcelos). Conhecem-se outros exemplares na Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira) e em Tongóbriga (Marco de Canavezes). Ou seja, a distribuição dos balneários coincide com uma área correspondente ao âmago da Cultura Castreja, e com a área nuclear dos Bracari, em que se destaca o vale do Ave como eixo dominante, quer pelo número, quer pela exuberância decorativa das Pedras Formosas.
O balneário de Braga, de acordo com os materiais recolhidos, embora seja o mais fruste, poderá ser o mais antigo dos dez que já foram descobertos, até ao momento, no Norte de Portugal, sendo, talvez, contemporâneo da expedição de Décimo Júnio Bruto (sécs. II – I a. C.). Na verdade, a descoberta do Balneário Pré-Romano “ressuscita” a questão da origem da cidade de Bracara Augusta, tema que, de certo modo, tem estado adormecido. Plínio refere-se á urbe como oppidum, o que levou numerosos autores a considerar a existência no Alto da Cividade de um povoado fortificado da Idade do Ferro, o qual seria a capital dos Bracari. De acordo com Schulten a fundação de Bracara teria por base um acampamento romano. Já Alain Tranoy (1981) considerou que a colina onde foi erguida a nova urbe de Augusto terá sido um ponto de reunião e mercado das diversas comunidades que formavam os Bracari.
Como se articula o balneário com estas diferentes hipóteses?
Quanto à hipótese derivada da referência de Plínio já se realizaram dezenas de intervenções sem que se tenham encontrado vestígios de qualquer estrutura habitacional relacionável com a Idade do Ferro. A proposta de Schulten permanece em suspenso, embora não tenham sido descobertos elementos arqueológicos, ou epigráficos, que a confirmem. Sabe-se hoje que tanto Asturica como Lucus tiveram origem em acampamentos militares. Todavia, os historiadores consideram que a zona de conflito, nas guerras empreendidas por Augusto, não se estendeu à Galécia Meridional. De qualquer modo a existência de um balneário não seria incompatível com um acampamento militar, os quais, normalmente constituíam, como se sabe, pólos de atracção de populações. Quanto à teoria de Alain Tranoy é reforçada pela descoberta. Se a colina onde mais tarde se ergueu Bracara Augusta fosse um local de reunião tradicional dos Bracari, seria lógico que existisse um certo número de equipamentos de apoio, entre os quais um balneário.
Na sequência da descoberta das ruínas do Balneário Pré-Romano, no local da futura Gare de comboios, foi discutida a sua eventual integração, o que foi acordado. O projecto foi alterado, de tal modo que as ruínas podem hoje ser observadas por milhares de visitantes, portugueses e estrangeiros.
A conservação do monumento enriquece o património de Braga e do país. O local das ruínas do balneário pré-romano funciona, também, como um ponto informativo, onde os turistas podem tomar conhecimento de outros monumentos similares, a visitar na região de Entre Douro e Minho, contribuindo assim para o desenvolvimento da Indústria do Património e do Turismo.
Para mais informações recomendamos a leitura dos seguintes trabalhos:
Almeida, Carlos Alberto Ferreira de (1974)– O monumento com forno de Sanfins e as escavações de 1973, Actas do III Congresso Nacional de Arqueologia, pp 149-172, Porto.
Cardoso; Mário (1931) – A última descoberta arqueológica na Citânia de Briteiros e a Interpretação da “Pedra Formosa”, Revista de Guimarães, 41, pp. 55-60, 201-209, 250-260.
Dinis, A. P. (2002) – O balneário do Alto das Quintães (Póvoa de Lanhoso, Norte de Portugal). Um novo caso a juntar ao livro negro da arqueologia de Entre Douro e Minho, Mínia, 10, III Série, pp. 159-180.
Lemos, F. S., Leite, J.M.F., Bettencourt, A. e Azevedo, M. (2003) – Balneário Pré Romano de Braga, Almadan, II Série, nº 12.
Queiroga, F. M. e Dinis, A. P. (1997) – A estrutura de banhos castreja do Castro do Monte das Eiras, Actas do Colóquio de Homenagem a Carlos Alberto Ferreira de Almeida, Santiago de Compostela.
Tranoy, Alain (1981) – La Galice Romaine, Diffusion du Bocard, Paris.
Silva, Armando Coelho F. da (1986) – A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Paços de Ferreira.
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Más informacióen en: http://www.uaum.uminho.pt/projectos/apc/Balneario_Pre_Romano.pdf
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