Autor: bracarense
jueves, 08 de septiembre de 2005
Sección: Artículos generales
Información publicada por: bracarense
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Gaita-de-fole
O que quer dizer "gaita-de-fole"?
Em Portugal, “Gaita-de-fole“ é o termo popular que designa um instrumento musical, aerofone não soprado directamente pela boca, munido de um fole (reservatório flexível de ar). Em certas zonas de Portugal também é comummente conhecido por "Gaita". A este respeito é oportuno mencionar que no nosso país convivem duas expressões; "Gaita-de-foles" e "Gaita-de-fole". Esta última é utilizada em Trás-os-Montes e de forma geral, pelos gaiteiros mais velhos, em quase todo o país. "Gaita-de-foles" é talvez uma expressão urbana recente, mais popularizada nos meios de comunicação. De referir ainda que “Gaita” é também um nome comum para designar indistintamente instrumentos de sopro, sem relação com a gaita-de-fole.
"Gaita-de-fole" ou "Gaita-de-foles" é, pois, o nome dado ao instrumento que ainda hoje é tocado um pouco por todo o país.
Por todo o mundo existem designações semelhantes noutras línguas, como por exemplo, no inglês, o equivalente é "Bagpipe", em francês é designado por "Cornemuse" e em castelhano pode ser designado de "Gaita" ou "Cornamusa". Em sueco, "Säckpipa", em alemão "Düdelsack", em Búlgaro "Gaida", em argelino, "Zukra", etc.
O instrumento está de tal modo expandido por um número tão grande de culturas, que a quantidade de nomes e modelos é quase incalculável.
Pouco ou nada se sabe sobre como terá surgido o nome “Gaita” (nome comum a quase todo o espaço ibérico para designar o instrumento). Segundo Joan Corominas, "Gaita" derivaria da palavra germânica "Gaits" (cabra), animal com cuja pele se fazia e faz ainda hoje o fole, parte comum a todas as Gaitas-de-fole do mundo - mas essa é um hipótese incerta e não provada.
Outros autores propõem a origem árabe e norte-africana, pois nomes semelhantes surgem noutras áreas geográficas dessa influência, no Médio Oriente e Norte de África: Al-Ghaita (Marrocos); Ghaida (Turquia), mas também na europa oriental: Gajda (Eslovénia); Gajdy (República Checa), etc.
Não é de excluir a influência indirecta do Império Otomano (que entre 1326 D.C. a 1683 D.C. se estendia a quase todo o Médio Oriente, Magreb e Europa Oriental) para a transmissão de instrumentos e práticas musicais em todas essas áreas - e obviamente, de nomes dos instrumentos.
Mas todas as hipóteses até aqui referidas não estão inteiramente comprovadas e são altamente especulativas.
Onde existem Gaitas-de-fole?
A Gaita-de-fole encontra-se distribuída por uma imensa quantidade de países. Na Europa estende-se desde a Escandinávia e Ucrânia até à Península Ibérica, em Portugal e em Espanha (encontram-se modelos diferentes nas Astúrias, Catalunha, Aragão, Galiza, Leão e Castela e Maiorca), passando pela Península Balcânica, Alemanha, Itália, França (com vários modelos diferentes, em várias regiões) e Ilhas Britânicas. Está também presente no Norte de África – em países como a Líbia, Argélia e Tunísia – e na Ásia, em especial na Índia, Paquistão e Turquia.
Para não falar da quantidade de países em que vários instrumentos deste género são tocados, como os países de emigração ibérica na América do Sul e nos países anglo-saxónicos (E.U.A., Austrália, etc).
E claro está, também em Portugal existem Gaitas-de-fole com características específicas, com referências constantes anteriores ao Século XII e até aos nossos dias.
Qual é a sua origem?
A Gaita-de-fole parece encontrar o seu espaço de difusão primordial a partir da expansão dos povos pastoris do Mediterrâneo ou da Ásia, visto tratar-se de um instrumento profundamente associado ao contexto sócio-económico pastoril - basta pensar que os foles são feitos geralmente com peles de animais de pastoreio, que também serviam para fazer recipientes para líquidos ou grão (odres) - sendo em redor do espaço mediterrânico que se encontra a maior variedade de modelos de instrumentos deste tipo.
Todavia, é preciso ter em conta que o uso de odres (sacos flexíveis de pele) era muito usual no mundo antigo e não se limitava aos povos pastoris. Muitas culturas urbanas usavam-nos para transporte de água, óleos, cereais e grão. Ou seja, os pastores poderiam ser os principais fornecedores, mas não os únicos utilizadores dessa tecnologia.
Isto significa algo muito simples: o instrumento Gaita-de-fole pode ter surgido em qualquer contexto, em qualquer parte do Mundo e provavelmente, até em vários sítios ao mesmo tempo.
É a Idade Média, no entanto, a época que aparenta ter sido o período de maior expansão e popularidade do instrumento - é aí que surgem com mais frequência as representações de pastores em cenas de Natividade, quer em pintura, iluminura ou escultura, onde se encontram figuras de gaiteiros, por exemplo, para além de outras referências.
A ausência total de iconografia ou de vestígios arqueológicos anteriores à Idade Média, não ajuda a determinar de forma precisa onde e quando terá surgido um instrumento deste tipo e que aspecto terá tido.
Esta circunstância tem permitido a difusão de mitos recentes referentes à sua origem, os quais têm vindo a ser intensamente propagados, nomeadamente os que atribuem ao instrumento uma obscura origem “celta” ou “céltica” - entendida em arqueologia como as culturas dos sítios de Hallstat (1000 A.C., actual Áustria) e La Téne (500 A.C., actual França).
Na verdade, esses mitos são infundados, contraditórios e carecem de fundamento histórico, pois não existem, em qualquer parte do mundo, quaisquer testemunhos, vestígios arqueológicos ou documentação que provem a presença de um instrumento desse tipo nesse período e nessa cultura concreta.
Apesar de existirem referências escritas e iconográficas a outros instrumentos (aerofones de metal, flautas, percussões, etc.), sobretudo em documentos romanos e gregos, não surgiu até hoje qualquer referência à gaita-de-fole nas culturas ditas "célticas".
Portanto, qualquer atribuição da origem ou presença da gaita-de-fole a esses povos não pode ser sustentada, até prova em contrário.
O mito da "música celta"
O mito de que este instrumento seria mais popular ou só existiria em exclusivo nos países ditos de "influência céltica" (Escócia, Irlanda ou País de Gales, por exemplo), também é falso, visto que a gaita-de-fole existe em praticamente todo o Mundo, ou pelo menos, no espaço mediterrânico e euro-asiático, com grande implantação e popularidade.
Mesmo a influência céltica das regiões acima citadas é discutível e relativa, se tivermos em conta que estas regiões foram povoadas por povos diferentes em períodos variados e tiveram interacção com muitas outras culturas das quais incorporaram muitos contributos: greco-romana, escandinava, anglo-saxónica (para referir apenas as principais), entre outras que se fizeram sentir ao longo de milhares de anos, até hoje.
De qualquer modo, não se consegue datar a introdução do instrumento gaita-de-fole nessas regiões antes da Idade Média.
É preciso também mencionar o impacto profundo das formas musicais dos Séculos XVI, XVII e XVIII, que modificaram todas as formas anteriores, em praticamente toda a Europa - e que estão base de quase toda a música europeia actual e mesmo da "música tradicional" de muitas regiões.
A chamada "música celta" (que mais do que um género musical, é uma designação comercial da indústria discográfica moderna, sem preocupações de rigor histórico ou de exactidão) nada tem de céltico: a data mais remota para datar as escalas temperadas, modos, afinações, ritmos e instrumentos usados nesse género musical não vão mais além do Século XVI, na melhor das hipóteses. Aliás, uma grande parte da música "folk" Irlandesa e Escocesa tem origem directa na música Barroca, muito simplesmente.
Ou seja, o que hoje é erradamente chamado de "celta" é uma forma de música moderna, cuja distribuição e expansão recente por várias regiões, dá a ilusão de ter um passado comum muito antigo - o que não é inteiramente verdade.
Nem sequer se aproxima dos cânones da música medieval, uma das formas musicais mais antigas que se conhecem no espaço europeu e da qual se sabe muito pouco, apesar de se conhecer melhor do que a música tocada há 3000 anos atrás.
Más informacióen en: http://www.gaitadefoles.net
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